sábado, 3 de janeiro de 2009

O Discurso do Presidente.



Eu, como muitos portugueses, assistiram ao comunicado do Presidente da República. A mim ficou-me aquela sensação esquisita de há muitos anos... de falar muito e não dizer nada... E a vós? Um género de paz "podre"... ou, se calhar, até não!...


O que significa a ausência de duas grandes questões nacionais do momento no discurso de Ano Novo de Cavaco Silva: a contestação dos professores e a crise nos bancos? Porque se referiu o Presidente ao pequeno comércio e agricultores - ou até, embora de forma mais ténue, aos diplomados que não conseguem trabalho - e não fez nem uma referência a estas duas questões que estão na ordem do dia da actualidade nacional? Poderemos retirar algumas ilações do facto de o Presidente ter promulgado no dia anterior a nova avaliação simplificada proposta pelo Governo? E porque é que Cavaco evitou falar dos bancos e da crise financeira quando, ainda no ano passado, fez referência aos salários milionários dos gestores, criticando, quase moralmente, essa tendência baseada na especulação económica? As respostas a estas perguntas podem ser simples. Ou leva-nos a interpretações estratégicas. Podemos pensar que o Presidente acha que as grandes questões económicas são mais importantes, neste ano de crise, do que o ar do tempo das manifestações dos professores ou da crise dos bancos. Ou então que este ano Cavaco Silva apostou tudo nos problemas que o Governo tem para resolver, ao contrário do ano passado. E, nisso, acabou por transformar o seu discurso aos portugueses num aviso à navegação a Sócrates. O discurso de Ano Novo de Cavaco, que, devido à falta de notícias em Portugal nestes dias de férias, passou a abrir os jornais televisivos a cada hora, anunciou uma mudança: acabe ou não a cooperação estratégica, o Presidente está definitivamente vigilante, do lado de lá da barricada. O facto é notícia até por ser raro. Mas devia servir de padrão a todas as empresas públicas: a Gebalis, empresa da Câmara Municipal de Lisboa, pede uma indemnização a três antigos gestores suspeitos de terem causado danos patrimoniais e não patrimoniais no valor de seis milhões de euros. Este é o caminho para travar a conduta de administradores que demonstram não ter capacidade para gerir dinheiros públicos.Quando o dinheiro é dos contribuintes, a necessidade de zelar pela sua correcta aplicação deve redobrar - em nome da ética republicana e do mais elementar bom senso. Também este bom senso deve presidir às novas regras do ajuste directo, que agora têm um regime excepcional para 2009 e 2010 que isenta de concurso público as empreitadas em valores que não ultrapassem os 5,150 milhões de euros. A crise não pode justificar tudo. Antes pelo contrário: exige um esforço suplementar das autoridades para aumentar o rigor e a transparências das contas públicas e dos negócios em que o Estado é parte interessada. É uma exigência elementar de cidadania a que o Governo não pode ser alheio.
PS - Editorial de hoje do DN

2 comentários:

Jorge P. Guedes disse...

Cavaco não se refriu a esses grandes problemas deum modo estudado e assumido.
Quis dar aideia de que é preciso união entre todos, daí querer fazer parecer que ele não quer hostilizar o governo, chamando-o à pedra para a resolução de problemas candentes sérios e graves.
Atitude simplista, hipócrita e irresponsável de um Presidente da república que já foi PM e que sabe bem o que custa ter a puxar-lhe as orelhas um PR sem medos nem tibiezas.
No fundo, no fundo, entre ele e Sócrates apenas vai uma curta distância política e enquanto um é medroso, o outro sobe na petulância e ar irritantemente pesporrente com que se apresenta.

Um abraço e bom ano.
jorge P.Guedes Sineiro

Mar Arável disse...

Bom ano

apesar do tempo que faz