quarta-feira, 28 de abril de 2010

Cavaco Silva, o bolo e a despensa...


Uma das reivindicações da greve dos transportes de ontem, a par do aumento dos salários, era a exigência de que não «fosse para a frente» o projecto de privatizar empresas como a CP, REN, os CTT e muitas outras. Enquanto ia ouvindo a habitual guerra dos números da adesão, dei por mim a ligar as palavras de ordem dos grevistas ao discurso do Presidente da República nas celebrações do 25 de Abril. Fui relê-lo, e confirmei a impressão de que a demagogia e o populismo continuam a ser o «estilo » preferido dos nossos políticos.
Cavaco Silva, professor de Economia de inspiração liberal e Presidente da República, num momento de crise sem precedentes, veio de novo «interrogar-se» sobre os rendimentos auferidos por altos dirigentes de empresas, perguntando se não serão injustos face aos salários médios dos trabalhadores, e manifestando a sua compreensão perante a indignação geral sentida face aos «salários, compensações e prémios concedidos a gestores de empresas que beneficiam de situações vantajosas no mercado interno ». De facto, depois disto como é que é possível uma administração, pública ou privada, dizer aos seus trabalhadores que «não há aumentos», quando afinal um especialista diz que bastava que o capitalista de chapéu preto, com um cifrão pintado, aceitasse dividir o seu salário com os demais, para resolver todas as desigualdades?
Cavaco Silva junta também a sua voz àqueles que protestam contra os ganhos dos gestores de empresas que, sendo privadas, são consideradas públicas sempre que convém.
E aqui os sintomas de dupla personalidade dos nossos governantes, presentes e passados, são
assustadores. No momento de encaixar milhões de euros, estão todos de acordo em vender, mas mal as ditas passam a pertencer a privados, e pior a dar lucro, querem ditar as regras. De facto, antes de avançarem para mais privatizações, pensem bem, porque ou as empresas são demasiado importantes para ficarem nas mãos de particulares e, nesse caso, não as vendam, ou não o são e então vendam-nas, mas sem a ilusão de que podem, simultaneamente, comer o bolo e guardá-lo na despensa.


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