terça-feira, 31 de março de 2009
segunda-feira, 30 de março de 2009
sexta-feira, 27 de março de 2009
O Teatro e a Cultura.
O artigo é um pouco extenso mas... vale a pena!...
O teatro e a cultura
Antonin Artaud
Jamais, quando é a própria vida que nos foge, se falou tanto em civilização e em cultura. Há um estranho paralelismo entre essa destruição generalizada da vida, que se encontra na base da desmoralização actual, e a preocupação com uma cultura que jamais coincidiu com a vida, e que é feita para governar sobre a vida.
Antes de retornar à cultura, observo que o mundo tem fome, e que ele não se preocupa com a cultura; e que é apenas de maneira artificial que se quer dirigir para a cultura pensamentos que estão voltados unicamente para a fome.
O mais urgente não me parece tanto defender uma cultura cuja existência jamais salvou um homem de ter fome e da preocupação de viver melhor, e sim extrair disso que se chama de cultura ideias cuja força viva seja idêntica à da fome.
Nós temos necessidade sobretudo de viver e de acreditar naquilo que nos faz viver e que alguma coisa nos faz viver ¤ e aquilo que sai do misterioso interior de nós mesmos não deve retornar perpetuamente sobre nós mesmos, em uma preocupação grosseiramente digestiva.
Quero dizer que se para todos nós é importante comer, e já, nos é ainda mais importante não desperdiçar nesta única preocupação imediata de comer nossa simples força de ter fome.
Se o signo da época é a confusão, vejo na base dessa confusão uma ruptura entre as coisas e as palavras, as ideias, os signos que são a representação dessas coisas.
Certamente não são sistemas de pensamento que nos faltam; o seu número e as suas contradições caracterizam nossa velha cultura europeia e francesa: mas quando é que a vida, a nossa vida, foi afectada por esses sistemas?
Não diria que os sistemas filosóficos são algo que se possa aplicar directa e imediatamente; mas das duas, uma:
Ou esses sistemas estão em nós e somos impregnados por eles a ponto de viver deles, e neste caso o que importam os livros? Ou nós não somos impregnados por eles, e neste caso eles não merecem nos fazer viver; e de qualquer forma, que importa seu desaparecimento?
É necessário insistir sobre esta ideia da cultura em acção e que se torna em nós como um novo órgão, uma espécie de segunda respiração: e a civilização é a cultura que se impõe e que rege até mesmo nossas acções mais subtis, é o espírito que se encontra nas coisas; e é de maneira artificial que se separa a civilização da cultura, e que há duas palavras para significar uma única e idêntica acção.
Julgamos um civilizado pelo modo como ele se comporta, e ele pensa da maneira como se comporta; mas já sobre a palavra civilizado existe uma confusão; para todo o mundo, um civilizado culto é um homem esclarecido quanto aos sistemas, e que pensa através de sistemas, de formas, de signos, de representações.
É um monstro em quem se desenvolveu até o absurdo essa faculdade que temos de extrair pensamentos de nossos actos, em vez de identificar nossos actos com nossos pensamentos.
Se falta amplitude à nossa vida, ou seja, se lhe falta uma constante magia, é porque gostamos de observar nossos actos e de perder-nos em considerações sobre as formas sonhadas de nossos actos, em vez de sermos impelidos por eles.
E essa faculdade é exclusivamente humana. Diria mesmo que é essa infecção do humano que nos estraga certas ideias que deveriam permanecer divinas; pois, longe de acreditar no sobrenatural e no divino inventados pelo homem, creio que foi a intervenção milenar do homem que acabou por nos corromper o divino.
Todas as nossas ideias sobre a vida devem ser modificadas, numa época em que nada mais adere à vida. E essa penosa cisão é motivo para que as coisas se vinguem, e a poesia que não está mais em nós e que não conseguimos mais encontrar nas coisas ressurge de repente pelo lado mau das coisas; e jamais se viu tantos crimes, cuja gratuita estranheza só pode ser explicada por nossa impotência em possuir a vida.
Se o teatro existe para permitir que nossos recalques tomem vida, uma espécie de atroz poesia se exprime através de actos bizarros, onde as alterações do facto de viver demonstram que a intensidade da vida permanece intacta, e que bastaria melhor dirigi-la.
Porém, por mais que queiramos a magia, no fundo temos medo de uma vida que se desenvolvesse toda sob o signo da verdadeira magia.
E é assim que nossa ausência enraizada de cultura espanta-se com certas grandiosas anomalias e que, por exemplo, em uma ilha sem nenhum contacto com a civilização actual, a simples passagem de um navio, somente com pessoas sadias, pode provocar o aparecimento de doenças desconhecidas nessa ilha, e que são uma especialidade de nossos países: zona, influenza, gripe, reumatismos, sinusite, etc., etc.
Do mesmo modo, se achamos que os negros cheiram mal, ignoramos que para tudo aquilo que não é Europa somos nós, os brancos, que cheiramos mal. E eu diria mesmo que exalamos um odor branco, branco assim como se pode falar de um "mal branco".
Como o ferro aquecido ao branco, pode-se dizer que tudo o que é excessivo é branco; e para um asiático a cor branca tornou-se a insígnia da mais extrema decomposição.
Dito isto, podemos começar a traçar uma ideia da cultura, uma ideia que é antes de tudo um protesto.
Protesto contra o estreitamento insensato que é imposto à ideia de cultura ao reduzi-la a uma espécie de inconcebível Panteão; o que resulta em uma idolatria da cultura, da mesma maneira que as religiões idólatras colocam deuses em seu Panteão.
Protesto contra a ideia separada que se faz da cultura, como se existisse, de um lado, a cultura, e de outro a vida; e como se a verdadeira cultura não fosse um meio requintado de compreender e de exercer a vida.
Pode-se queimar a biblioteca de Alexandria. Acima e além dos papiros, existem forças: podem nos roubar durante algum tempo a faculdade de reencontrar essas forças, mas não podem suprimir a sua energia. E é bom que muitas das grandes facilidades desapareçam e que certas formas caiam no esquecimento; assim a cultura sem espaço nem tempo contida em nossa capacidade nervosa ressurgirá com uma energia amplificada. E é justo que de tempos em tempos se produzam cataclismos que nos incitem a retornar à natureza, ou seja, a reencontrar a vida. O velho totemismo dos animais, das pedras, dos objectos utilizados para aterrorizar, das vestimentas bestialmente impregnadas, em uma palavra tudo o que serve para captar, dirigir e desviar as forças, é para nós uma coisa morta, da qual sabemos apenas tirar um proveito artístico e estático, um proveito de fruidor e não um proveito de actor.
Ora, o totemismo é actor porque se move, e é feito para actores; e toda verdadeira cultura apoia-se sobre os meios bárbaros e primitivos do totemismo, cuja vida selvagem, ou seja, inteiramente espontânea, quero adorar.
O que nos fez perder a cultura foi nossa ideia ocidental da arte e o proveito que dela tiramos. Arte e cultura não podem andar juntas, contrariamente ao uso que universalmente se tem feito delas!
A verdadeira cultura age por sua exaltação e por sua força, e o ideal europeu da arte visa lançar o espírito em uma atitude separada da força e que assiste à sua exaltação. É uma ideia preguiçosa, inútil, e que engendra, a curto prazo, a morte. Se as múltiplas voltas da Serpente Quetzalcoatl são harmoniosas, é porque elas exprimem o equilíbrio e as curvas de uma força adormecida; e a intensidade das formas está lá unicamente para seduzir e captar a mesma força que, em música, é despertada por um dilacerante teclado.
Os deuses que dormem nos Museus: o deus do Fogo, com seu incensório que recorda o tripé da Inquisição; Tlaloc, um dos múltiplos deuses das águas, com sua muralha de granito verde; a Deusa Mãe das águas, a Deusa Mãe das Flores; a expressão imutável e que soa, debaixo de várias camadas de água, da Deusa com o vestido de jade verde; a expressão arrebatada e bem-aventurada, o rosto crepitando de aromas, onde os átomos de sol dançam em círculos, da Deusa Mãe das Flores; essa espécie de servidão necessária de um mundo onde a pedra se anima porque foi golpeada da maneira correcta, o mundo dos civilizados orgânicos, aqueles cujos órgãos vitais também saem de seu repouso, esse mundo humano penetra em nós, participa da dança dos deuses, sem retornar nem olhar para trás, sob pena de se tornar, como nós mesmos, pulverizadas estátuas de sal.
No México, uma vez que se trata do México, não existe arte e as coisas servem. E o mundo está em perpétua exaltação.
À nossa ideia inerte e desinteressada da arte uma cultura autêntica opõe uma ideia mágica e violentamente egoísta, ou seja, interessada. Pois os mexicanos captam o Manas, as forças que dormem em todas as formas, e que não podem surgir de uma contemplação das formas em si mesmas, mas somente de uma identificação mágica com essas formas. E os velhos Tótens estão lá para acelerar a comunicação.
Quando tudo nos leva a dormir, olhando com olhos fixos e conscientes, é duro despertar e olhar as coisas como em um sonho, com olhos que não sabem mais para que servem, e cujo olhar está voltado para dentro.
É assim que nasce a estranha ideia de uma acção desinteressada, mas que é acção de qualquer maneira, e mais violenta por aproximar-se da tentação de repouso.
Toda verdadeira efígie tem sua sombra que a duplica; e a arte surge a partir do momento em que o escultor que modela crê liberar uma espécie de sombra cuja existência atormentará seu repouso.
Como toda cultura mágica que os hieróglifos apropriados estabelecem, o verdadeiro teatro também tem suas sombras; e, de todas as linguagens e de todas as artes, ele é o único que ainda possui sombras que romperam com suas limitações. E podemos dizer que, desde a sua origem, elas não suportaram limitações.
Nossa ideia petrificada do teatro junta-se à nossa ideia petrificada de uma cultura sem sombras, onde, para qualquer lado que se volte nosso espírito, não encontramos senão o vazio, quando de facto o espaço está pleno.
Mas o verdadeiro teatro, porque se move e porque se serve de instrumentos vivos, continua a agitar as sombras onde a vida jamais deixou de existir. O actor que não repete o mesmo gesto duas vezes, mas que faz gestos, se move, e certamente brutaliza as formas, mas por trás dessas formas, e através da sua destruição, encontra aquilo que sobrevive às formas e produz a sua continuação.
O teatro que não está em nada mas que se serve de todas as linguagens: gestos, sons, palavras, fogo, gritos, encontra-se exactamente no ponto em que o espírito tem necessidade de uma linguagem para produzir suas manifestações.
E a fixação do teatro numa linguagem: palavras escritas, música, luzes, ruídos, indica sua perdição a curto prazo, sendo que a escolha de uma linguagem demonstra o gosto que se tem pelas facilidades dessa linguagem; e o ressecamento da linguagem acompanha a sua limitação.
Para o teatro, como para a cultura, a questão continua sendo nomear e dirigir as sombras: e o teatro, que não se fixa na linguagem nem nas formas, destrói assim as falsas sombras, e ao mesmo tempo prepara o caminho para um outro nascimento de sombras, em volta das quais se incorpora o verdadeiro espectáculo da vida.
Quebrar a linguagem para tocar a vida é fazer ou refazer o teatro; e o importante é não achar que esse acto deve permanecer sagrado, ou seja, reservado. O importante é acreditar que todos podem fazê-lo, e que para tanto é necessária uma preparação.
Isso leva a rejeitar as limitações habituais do homem e os poderes do homem, e a tornar infinitas as fronteiras daquilo que denomina-se a realidade.
É necessário acreditar em um sentido da vida renovado pelo teatro, onde o homem impavidamente torna-se mestre daquilo que ainda não existe, e o faz nascer. E tudo aquilo que não nasceu ainda pode nascer, desde que não nos contentemos em continuar sendo simples órgãos registradores.
Da mesma maneira, quando pronunciamos a palavra vida, é preciso entender que não se trata da vida reconhecida a partir do exterior dos factos, mas dessa espécie de frágil e fugidio centro em que as formas não tocam. E se ainda existe algo de infernal e de verdadeiramente maldito nestes tempos, é esse demorar-se artisticamente sobre as formas, em vez de ser como os supliciados que são incendiados e fazem sinais de dentro das suas fogueiras.
In Antonin Artaud, Le théâtre et son double, Paris, éditions Gallimard, 1964, págs. 9-18. Tradução de Roberto Mallet.
Antonin Artaud
Jamais, quando é a própria vida que nos foge, se falou tanto em civilização e em cultura. Há um estranho paralelismo entre essa destruição generalizada da vida, que se encontra na base da desmoralização actual, e a preocupação com uma cultura que jamais coincidiu com a vida, e que é feita para governar sobre a vida.
Antes de retornar à cultura, observo que o mundo tem fome, e que ele não se preocupa com a cultura; e que é apenas de maneira artificial que se quer dirigir para a cultura pensamentos que estão voltados unicamente para a fome.
O mais urgente não me parece tanto defender uma cultura cuja existência jamais salvou um homem de ter fome e da preocupação de viver melhor, e sim extrair disso que se chama de cultura ideias cuja força viva seja idêntica à da fome.
Nós temos necessidade sobretudo de viver e de acreditar naquilo que nos faz viver e que alguma coisa nos faz viver ¤ e aquilo que sai do misterioso interior de nós mesmos não deve retornar perpetuamente sobre nós mesmos, em uma preocupação grosseiramente digestiva.
Quero dizer que se para todos nós é importante comer, e já, nos é ainda mais importante não desperdiçar nesta única preocupação imediata de comer nossa simples força de ter fome.
Se o signo da época é a confusão, vejo na base dessa confusão uma ruptura entre as coisas e as palavras, as ideias, os signos que são a representação dessas coisas.
Certamente não são sistemas de pensamento que nos faltam; o seu número e as suas contradições caracterizam nossa velha cultura europeia e francesa: mas quando é que a vida, a nossa vida, foi afectada por esses sistemas?
Não diria que os sistemas filosóficos são algo que se possa aplicar directa e imediatamente; mas das duas, uma:
Ou esses sistemas estão em nós e somos impregnados por eles a ponto de viver deles, e neste caso o que importam os livros? Ou nós não somos impregnados por eles, e neste caso eles não merecem nos fazer viver; e de qualquer forma, que importa seu desaparecimento?
É necessário insistir sobre esta ideia da cultura em acção e que se torna em nós como um novo órgão, uma espécie de segunda respiração: e a civilização é a cultura que se impõe e que rege até mesmo nossas acções mais subtis, é o espírito que se encontra nas coisas; e é de maneira artificial que se separa a civilização da cultura, e que há duas palavras para significar uma única e idêntica acção.
Julgamos um civilizado pelo modo como ele se comporta, e ele pensa da maneira como se comporta; mas já sobre a palavra civilizado existe uma confusão; para todo o mundo, um civilizado culto é um homem esclarecido quanto aos sistemas, e que pensa através de sistemas, de formas, de signos, de representações.
É um monstro em quem se desenvolveu até o absurdo essa faculdade que temos de extrair pensamentos de nossos actos, em vez de identificar nossos actos com nossos pensamentos.
Se falta amplitude à nossa vida, ou seja, se lhe falta uma constante magia, é porque gostamos de observar nossos actos e de perder-nos em considerações sobre as formas sonhadas de nossos actos, em vez de sermos impelidos por eles.
E essa faculdade é exclusivamente humana. Diria mesmo que é essa infecção do humano que nos estraga certas ideias que deveriam permanecer divinas; pois, longe de acreditar no sobrenatural e no divino inventados pelo homem, creio que foi a intervenção milenar do homem que acabou por nos corromper o divino.
Todas as nossas ideias sobre a vida devem ser modificadas, numa época em que nada mais adere à vida. E essa penosa cisão é motivo para que as coisas se vinguem, e a poesia que não está mais em nós e que não conseguimos mais encontrar nas coisas ressurge de repente pelo lado mau das coisas; e jamais se viu tantos crimes, cuja gratuita estranheza só pode ser explicada por nossa impotência em possuir a vida.
Se o teatro existe para permitir que nossos recalques tomem vida, uma espécie de atroz poesia se exprime através de actos bizarros, onde as alterações do facto de viver demonstram que a intensidade da vida permanece intacta, e que bastaria melhor dirigi-la.
Porém, por mais que queiramos a magia, no fundo temos medo de uma vida que se desenvolvesse toda sob o signo da verdadeira magia.
E é assim que nossa ausência enraizada de cultura espanta-se com certas grandiosas anomalias e que, por exemplo, em uma ilha sem nenhum contacto com a civilização actual, a simples passagem de um navio, somente com pessoas sadias, pode provocar o aparecimento de doenças desconhecidas nessa ilha, e que são uma especialidade de nossos países: zona, influenza, gripe, reumatismos, sinusite, etc., etc.
Do mesmo modo, se achamos que os negros cheiram mal, ignoramos que para tudo aquilo que não é Europa somos nós, os brancos, que cheiramos mal. E eu diria mesmo que exalamos um odor branco, branco assim como se pode falar de um "mal branco".
Como o ferro aquecido ao branco, pode-se dizer que tudo o que é excessivo é branco; e para um asiático a cor branca tornou-se a insígnia da mais extrema decomposição.
Dito isto, podemos começar a traçar uma ideia da cultura, uma ideia que é antes de tudo um protesto.
Protesto contra o estreitamento insensato que é imposto à ideia de cultura ao reduzi-la a uma espécie de inconcebível Panteão; o que resulta em uma idolatria da cultura, da mesma maneira que as religiões idólatras colocam deuses em seu Panteão.
Protesto contra a ideia separada que se faz da cultura, como se existisse, de um lado, a cultura, e de outro a vida; e como se a verdadeira cultura não fosse um meio requintado de compreender e de exercer a vida.
Pode-se queimar a biblioteca de Alexandria. Acima e além dos papiros, existem forças: podem nos roubar durante algum tempo a faculdade de reencontrar essas forças, mas não podem suprimir a sua energia. E é bom que muitas das grandes facilidades desapareçam e que certas formas caiam no esquecimento; assim a cultura sem espaço nem tempo contida em nossa capacidade nervosa ressurgirá com uma energia amplificada. E é justo que de tempos em tempos se produzam cataclismos que nos incitem a retornar à natureza, ou seja, a reencontrar a vida. O velho totemismo dos animais, das pedras, dos objectos utilizados para aterrorizar, das vestimentas bestialmente impregnadas, em uma palavra tudo o que serve para captar, dirigir e desviar as forças, é para nós uma coisa morta, da qual sabemos apenas tirar um proveito artístico e estático, um proveito de fruidor e não um proveito de actor.
Ora, o totemismo é actor porque se move, e é feito para actores; e toda verdadeira cultura apoia-se sobre os meios bárbaros e primitivos do totemismo, cuja vida selvagem, ou seja, inteiramente espontânea, quero adorar.
O que nos fez perder a cultura foi nossa ideia ocidental da arte e o proveito que dela tiramos. Arte e cultura não podem andar juntas, contrariamente ao uso que universalmente se tem feito delas!
A verdadeira cultura age por sua exaltação e por sua força, e o ideal europeu da arte visa lançar o espírito em uma atitude separada da força e que assiste à sua exaltação. É uma ideia preguiçosa, inútil, e que engendra, a curto prazo, a morte. Se as múltiplas voltas da Serpente Quetzalcoatl são harmoniosas, é porque elas exprimem o equilíbrio e as curvas de uma força adormecida; e a intensidade das formas está lá unicamente para seduzir e captar a mesma força que, em música, é despertada por um dilacerante teclado.
Os deuses que dormem nos Museus: o deus do Fogo, com seu incensório que recorda o tripé da Inquisição; Tlaloc, um dos múltiplos deuses das águas, com sua muralha de granito verde; a Deusa Mãe das águas, a Deusa Mãe das Flores; a expressão imutável e que soa, debaixo de várias camadas de água, da Deusa com o vestido de jade verde; a expressão arrebatada e bem-aventurada, o rosto crepitando de aromas, onde os átomos de sol dançam em círculos, da Deusa Mãe das Flores; essa espécie de servidão necessária de um mundo onde a pedra se anima porque foi golpeada da maneira correcta, o mundo dos civilizados orgânicos, aqueles cujos órgãos vitais também saem de seu repouso, esse mundo humano penetra em nós, participa da dança dos deuses, sem retornar nem olhar para trás, sob pena de se tornar, como nós mesmos, pulverizadas estátuas de sal.
No México, uma vez que se trata do México, não existe arte e as coisas servem. E o mundo está em perpétua exaltação.
À nossa ideia inerte e desinteressada da arte uma cultura autêntica opõe uma ideia mágica e violentamente egoísta, ou seja, interessada. Pois os mexicanos captam o Manas, as forças que dormem em todas as formas, e que não podem surgir de uma contemplação das formas em si mesmas, mas somente de uma identificação mágica com essas formas. E os velhos Tótens estão lá para acelerar a comunicação.
Quando tudo nos leva a dormir, olhando com olhos fixos e conscientes, é duro despertar e olhar as coisas como em um sonho, com olhos que não sabem mais para que servem, e cujo olhar está voltado para dentro.
É assim que nasce a estranha ideia de uma acção desinteressada, mas que é acção de qualquer maneira, e mais violenta por aproximar-se da tentação de repouso.
Toda verdadeira efígie tem sua sombra que a duplica; e a arte surge a partir do momento em que o escultor que modela crê liberar uma espécie de sombra cuja existência atormentará seu repouso.
Como toda cultura mágica que os hieróglifos apropriados estabelecem, o verdadeiro teatro também tem suas sombras; e, de todas as linguagens e de todas as artes, ele é o único que ainda possui sombras que romperam com suas limitações. E podemos dizer que, desde a sua origem, elas não suportaram limitações.
Nossa ideia petrificada do teatro junta-se à nossa ideia petrificada de uma cultura sem sombras, onde, para qualquer lado que se volte nosso espírito, não encontramos senão o vazio, quando de facto o espaço está pleno.
Mas o verdadeiro teatro, porque se move e porque se serve de instrumentos vivos, continua a agitar as sombras onde a vida jamais deixou de existir. O actor que não repete o mesmo gesto duas vezes, mas que faz gestos, se move, e certamente brutaliza as formas, mas por trás dessas formas, e através da sua destruição, encontra aquilo que sobrevive às formas e produz a sua continuação.
O teatro que não está em nada mas que se serve de todas as linguagens: gestos, sons, palavras, fogo, gritos, encontra-se exactamente no ponto em que o espírito tem necessidade de uma linguagem para produzir suas manifestações.
E a fixação do teatro numa linguagem: palavras escritas, música, luzes, ruídos, indica sua perdição a curto prazo, sendo que a escolha de uma linguagem demonstra o gosto que se tem pelas facilidades dessa linguagem; e o ressecamento da linguagem acompanha a sua limitação.
Para o teatro, como para a cultura, a questão continua sendo nomear e dirigir as sombras: e o teatro, que não se fixa na linguagem nem nas formas, destrói assim as falsas sombras, e ao mesmo tempo prepara o caminho para um outro nascimento de sombras, em volta das quais se incorpora o verdadeiro espectáculo da vida.
Quebrar a linguagem para tocar a vida é fazer ou refazer o teatro; e o importante é não achar que esse acto deve permanecer sagrado, ou seja, reservado. O importante é acreditar que todos podem fazê-lo, e que para tanto é necessária uma preparação.
Isso leva a rejeitar as limitações habituais do homem e os poderes do homem, e a tornar infinitas as fronteiras daquilo que denomina-se a realidade.
É necessário acreditar em um sentido da vida renovado pelo teatro, onde o homem impavidamente torna-se mestre daquilo que ainda não existe, e o faz nascer. E tudo aquilo que não nasceu ainda pode nascer, desde que não nos contentemos em continuar sendo simples órgãos registradores.
Da mesma maneira, quando pronunciamos a palavra vida, é preciso entender que não se trata da vida reconhecida a partir do exterior dos factos, mas dessa espécie de frágil e fugidio centro em que as formas não tocam. E se ainda existe algo de infernal e de verdadeiramente maldito nestes tempos, é esse demorar-se artisticamente sobre as formas, em vez de ser como os supliciados que são incendiados e fazem sinais de dentro das suas fogueiras.
In Antonin Artaud, Le théâtre et son double, Paris, éditions Gallimard, 1964, págs. 9-18. Tradução de Roberto Mallet.
quinta-feira, 26 de março de 2009
O Desafio.
Fui desafiado (pela BatRitinha) para abrir um livro na página 161 e transcrever para aqui a 5.ª frase inteira que lá encontrasse. O livro eleito foi um dos que ando a ler presentemente. A sua autora é a escritora espanhola Matilde Asensi. O seu titulo é: "Tudo debaixo do Céu":
“Com estas varetas posso dizer-lhe muitas coisas acerca de si, sobre a sua situação actual, os seus problemas e sobre a melhor maneira de actuar para os resolver.”
Agora passo o desafio a 5 bloggers que queiram aceitar...
“Com estas varetas posso dizer-lhe muitas coisas acerca de si, sobre a sua situação actual, os seus problemas e sobre a melhor maneira de actuar para os resolver.”
Agora passo o desafio a 5 bloggers que queiram aceitar...
quarta-feira, 25 de março de 2009
terça-feira, 24 de março de 2009
Trova do Vento que passa.
Hoje recebi duma amiga um "pps" com as grandes vozes do fados de Coimbra. Se calhar estas "coisas" não são por acaso. Se calhar estava a precisar de ser relembrado... "que há sempre alguém que resiste... há sempre alguém que diz não..." Obrigado amiga!...
Mais fome leva “Caritas” a criar refeitórios sociais.
Carências das famílias levam à criação de novas respostas sociais, como vales para fazer compras no supermercado, ou refeições que são levadas para tomar em casa.
DN - 24/03/2009
segunda-feira, 23 de março de 2009
sexta-feira, 20 de março de 2009
quinta-feira, 19 de março de 2009
História de uma rã...
Da alegoria da Caverna de Platão para Matriz, passando pelas fábulas de La Fontaine, o idioma simbólico é um meio privilegiado para induzir à reflexão e transmitir algumas ideias.
Olivier Clerc, escritor e filósofo, nesta sua breve história, pela metáfora, põe em evidência as funestas consequências da não consciência da mudança que afecta a nossa saúde, as nossas relações, a evolução social e o ambiente.
Um resumo de vida e sabedoria que cada um poderá plantar no próprio jardim para desfrutar dos seus frutos.
Imagine uma panela cheia de água fria, na qual nada tranquilamente uma pequena rã. Um pequeno fogo debaixo da panela e a água aquece muito lentamente. Pouco a pouco água fica morna e a rã, achando isso bastante agradável, contínua a nadar... A temperatura da água contínua a subir...
Agora água está mais quente do que a rã gostaria. Sente-se um pouco cansada, mas, não obstante, isso não a amedronta. Agora água está realmente quente e a rã começa a achar desagradável, mas está muito debilitada. Então aguenta e não faz nada...
A temperatura contínua a subir, até que a rã acaba, simplesmente, morta e cozida.
Se a mesma rã tivesse sido lançada directamente na água a 50 graus, com um golpe de pernas teria pulado imediatamente da panela.
Isto mostra que, quando uma mudança acontece de um modo suficientemente lento, escapa à consciência e não desperta, na maior parte dos casos, nenhuma reação, nem um pouco de oposição ou alguma revolta.
Se nós olharmos para o que tem acontecido na nossa sociedade durante as últimas décadas poderemos ver que estamos a sofrer uma lenta mudança na vida à qual nos vamos acostumando.
Uma quantidade de coisas que nos teriam feito horrorizar há 20, 30 ou 40 anos, foram a pouco e pouco banalizadas e hoje apenas perturbam levemente ou até deixam completamente indiferentes a maior parte das pessoas.
Em nome do progresso, da ciência e do lucro são efectuados ataques contínuos às liberdades individuais, à dignidade, à integridade da natureza, à beleza e à alegria de viver. Lenta, mas inexoravelmente, com a constante cumplicidade das vítimas, desavisadas e agora incapazes de se defenderem.
As previsões para o futuro, em vez de despertarem reacções e medidas preventivas, não fazem outra coisa que não seja preparar psicologicamente as pessoas para aceitarem algumas condições de vida decadentes,
aliás dramáticas.
O martelar contínuo de informações dos média satura os cérebros que não podem distinguir mais as coisas...
Quando eu falei pela primeira vez destas coisas, era para um amanhã,
Agora, é para hoje!!!
Então, se você não está como a rã, já meio cozido, dê um golpe de pernas, antes que seja muito tarde.
Olivier Clerc, escritor e filósofo, nesta sua breve história, pela metáfora, põe em evidência as funestas consequências da não consciência da mudança que afecta a nossa saúde, as nossas relações, a evolução social e o ambiente.
Um resumo de vida e sabedoria que cada um poderá plantar no próprio jardim para desfrutar dos seus frutos.
Imagine uma panela cheia de água fria, na qual nada tranquilamente uma pequena rã. Um pequeno fogo debaixo da panela e a água aquece muito lentamente. Pouco a pouco água fica morna e a rã, achando isso bastante agradável, contínua a nadar... A temperatura da água contínua a subir...
Agora água está mais quente do que a rã gostaria. Sente-se um pouco cansada, mas, não obstante, isso não a amedronta. Agora água está realmente quente e a rã começa a achar desagradável, mas está muito debilitada. Então aguenta e não faz nada...
A temperatura contínua a subir, até que a rã acaba, simplesmente, morta e cozida.
Se a mesma rã tivesse sido lançada directamente na água a 50 graus, com um golpe de pernas teria pulado imediatamente da panela.
Isto mostra que, quando uma mudança acontece de um modo suficientemente lento, escapa à consciência e não desperta, na maior parte dos casos, nenhuma reação, nem um pouco de oposição ou alguma revolta.
Se nós olharmos para o que tem acontecido na nossa sociedade durante as últimas décadas poderemos ver que estamos a sofrer uma lenta mudança na vida à qual nos vamos acostumando.
Uma quantidade de coisas que nos teriam feito horrorizar há 20, 30 ou 40 anos, foram a pouco e pouco banalizadas e hoje apenas perturbam levemente ou até deixam completamente indiferentes a maior parte das pessoas.
Em nome do progresso, da ciência e do lucro são efectuados ataques contínuos às liberdades individuais, à dignidade, à integridade da natureza, à beleza e à alegria de viver. Lenta, mas inexoravelmente, com a constante cumplicidade das vítimas, desavisadas e agora incapazes de se defenderem.
As previsões para o futuro, em vez de despertarem reacções e medidas preventivas, não fazem outra coisa que não seja preparar psicologicamente as pessoas para aceitarem algumas condições de vida decadentes,
aliás dramáticas.
O martelar contínuo de informações dos média satura os cérebros que não podem distinguir mais as coisas...
Quando eu falei pela primeira vez destas coisas, era para um amanhã,
Agora, é para hoje!!!
Então, se você não está como a rã, já meio cozido, dê um golpe de pernas, antes que seja muito tarde.
quarta-feira, 18 de março de 2009
Papa diz que preservativos não são solução.
Combate à sida
O Papa defendeu, ontem, antes da sua deslocação aos Camarões, que a solução para o problema da sida não passa pela distribuição de preservativos.
“Não se pode resolver (o problema da sida) com a distribuição de preservativos”, disse o Papa acrescentando que, “pelo contrário, a sua utilização agrava o problema”.Esta é a primeira vez que Bento XVI fala explicitamente no uso de preservativos. A Igreja Católica, que se afirma na linha da frente do combate à sida, encoraja a abstinência para impedir a propagação da doença.
A oposição da Igreja ao uso de preservativos é questionada por padres e freiras que trabalham com vítimas da sida em África.
O Papa defendeu, ontem, antes da sua deslocação aos Camarões, que a solução para o problema da sida não passa pela distribuição de preservativos.
“Não se pode resolver (o problema da sida) com a distribuição de preservativos”, disse o Papa acrescentando que, “pelo contrário, a sua utilização agrava o problema”.Esta é a primeira vez que Bento XVI fala explicitamente no uso de preservativos. A Igreja Católica, que se afirma na linha da frente do combate à sida, encoraja a abstinência para impedir a propagação da doença.
A oposição da Igreja ao uso de preservativos é questionada por padres e freiras que trabalham com vítimas da sida em África.
IN "Global" de 18/03/2009
Estamos no século XXI... caramba!...
terça-feira, 17 de março de 2009
Crocodilos no Rio Douro.
Uma misteriosa placa colocada junto ao cais de Miranda do Douro deu origem a uma notícia em Espanha sobre a existência de crocodilos no Rio Douro, motivo de espanto geral no lado português.
"Portugal proibiu os banho no Rio Douro perante o grave perigo de ataque de crocodilos" assim começa a notícia do jornal espanhol La Opinion de Zamora que surpreendeu as autoridades portuguesas, inclusive aquelas que aponta como as protagonistas da inusitada histórica.
"Nós não temos rigorosamente nada a ver com isso", sublinhou à Lusa o vice-presidente da Câmara de Miranda do Douro, Américo Tomé, que ainda não conseguiu encontrar uma explicação para o caso.
O autarca diz que já foi enviado um desmentido para o jornal espanhol que escreve que foi a Câmara que mandou colocar nas arribas do Douro e junto ao cais a placa que está na origem da história do periódico zamorano sobre os crocodilos.
O sinal em causa foi colocado no embarcadouro para o cruzeiro ambiental de Miranda do Douro bem visível a quem se dirige para o barco, com um fundo amarelo em que sobressai a figura de um crocodilo.
Em volta do animal duas frases em inglês: "Danger Crocodiles / No Swimming" (Perigo Crocodilos/Não nadar).
"Portugal proibiu os banho no Rio Douro perante o grave perigo de ataque de crocodilos" assim começa a notícia do jornal espanhol La Opinion de Zamora que surpreendeu as autoridades portuguesas, inclusive aquelas que aponta como as protagonistas da inusitada histórica.
"Nós não temos rigorosamente nada a ver com isso", sublinhou à Lusa o vice-presidente da Câmara de Miranda do Douro, Américo Tomé, que ainda não conseguiu encontrar uma explicação para o caso.
O autarca diz que já foi enviado um desmentido para o jornal espanhol que escreve que foi a Câmara que mandou colocar nas arribas do Douro e junto ao cais a placa que está na origem da história do periódico zamorano sobre os crocodilos.
O sinal em causa foi colocado no embarcadouro para o cruzeiro ambiental de Miranda do Douro bem visível a quem se dirige para o barco, com um fundo amarelo em que sobressai a figura de um crocodilo.
Em volta do animal duas frases em inglês: "Danger Crocodiles / No Swimming" (Perigo Crocodilos/Não nadar).
O crocodilo já pediu desculpa pelo boato!...
segunda-feira, 16 de março de 2009
sexta-feira, 13 de março de 2009
quinta-feira, 12 de março de 2009
quarta-feira, 11 de março de 2009
Comer peixe dá inteligência.
O consumo de peixe torna as pessoas mais inteligentes, sustenta um estudo sueco, que estabelece uma ligação entre adolescentes com um quociente de inteligência (QI) mais elevado e o facto de comerem peixe em quantidade suficiente.
"Descobrimos uma relação clara entre o facto de se comer frequentemente peixe e resultados (de QI de adolescentes) elevados", comentou, em comunicado, Kjell Torén, que conduziu o estudo para o Hospital Universitário Sahlgrenska de Gotemburgo.
O estudo analisou os valores do QI, as capacidades de expressão e de orientação espacial de 3.972 suecos de 15 anos, em 2000, depois três anos mais tarde durante a inspecção para o serviço militar.
Os rapazes de 15 anos, que comiam peixe pelo menos uma vez por semana, tinham um resultado em média sete por cento mais elevado durante o teste de QI três anos depois, enquanto os que comiam mais de uma vez por semana tinham um resultado 12 por cento mais elevado que a média, segundo os resultados do estudo.
"Descobrimos uma relação clara entre o facto de se comer frequentemente peixe e resultados (de QI de adolescentes) elevados", comentou, em comunicado, Kjell Torén, que conduziu o estudo para o Hospital Universitário Sahlgrenska de Gotemburgo.
O estudo analisou os valores do QI, as capacidades de expressão e de orientação espacial de 3.972 suecos de 15 anos, em 2000, depois três anos mais tarde durante a inspecção para o serviço militar.
Os rapazes de 15 anos, que comiam peixe pelo menos uma vez por semana, tinham um resultado em média sete por cento mais elevado durante o teste de QI três anos depois, enquanto os que comiam mais de uma vez por semana tinham um resultado 12 por cento mais elevado que a média, segundo os resultados do estudo.
JN de 10/03/2009
Estou desconfiado que as cabeças "pensantes" deste país, à beira-mar plantado, só comem carne... ou então... se calhar era melhor dedicarem-se à pesca!...
terça-feira, 10 de março de 2009
Estou farto!...
Ontem à noite resolvi colocar-me em frente da TV, para ouvir as cabeças “sonantes” deste país falarem sobre as razões da “crise” e as soluções para a mesma.
Sinceramente fiquei decepcionado!...
Na SIC o Mário Crespo colocou algumas questões (sobre a crise... claro) ao “ilustríssimo” Dr. Medina Carreira e as respostas foram (no mínimo) confrangedoras...
Além dum “dejá vu” em relação aos políticos e governantes deste país (coisas que todos nós já sabemos de “ginjeira”) terminou com um... Regime Presidencialista... como solução (imediata) para a mudança.
Falou das “Reformas Estruturais” que deveriam ter sido feitas e não foram... (esta das “Reformas Estruturais” é das tais “coisas” que toda a gente fala mas... que ninguém sabe muito bem o que é. Ou pelo menos nos moldes em que nos são “explicadas”).
A certa altura, do programa, o Dr. Medina Carreira queixou-se que poucos portugueses estariam naquela altura a vê-lo e ouvi-lo (e que portanto a sua “mensagem” chegaria uma ínfima parte dos seus conterrâneos). Mas “todo o mundo” já sabe da corrupção que grassa no mundo das finanças... da política... do desporto (só para falar nos casos mais mediáticos). São tantos os exemplos que estes últimos anos nos têm chegado ao conhecimento (e que “caiem no esquecimento” ou são arquivados) que até na mais recôndita aldeia deste “nosso” Portugal sabem que algo “vai mal”, que os “políticos são todos uns mentirosos” e “que a justiça é só para alguns”.
Queixou-se igualmente do “pouco tempo” que lhe era concedido falar (meia hora). Que precisaria “para aí de duas horas” para ir “mais fundo das questões” (e depois veio a “alfinetada” dizendo que as televisões são “clientes dos partidos”... o que neste caso até é verdade). Mas o que é certo é que durante a “dita meia-hora” fez-me lembrar, sem querer ofender esta “ilustríssima personagem”, um “burro a andar à nora” (não querendo ofender igualmente a “alimária” que continua por esse mundo fora a trabalhar que nem uma desalmada...). Falou... falou... e... “não disse nada”.
Melhor dizendo... disse... mas nada daquilo que nós não soubéssemos já!... (e continuo muito bem sem perceber aquela do “Regime Presidencialista”. Ou se calhar... também era para não se perceber... digo eu).
Depois na RTP 1 assisti ao “Prós e Contras”. O assunto qual era? Vá lá adivinhem?
Isso mesmo... A Crise!... ou melhor “Como Responder à Crise?”
Eu ainda pensei por lá ver a D. Crise, toda engalanada e sentada numa poltrona, pronta para ouvir todas as respostas que tinham para lhe dar. Afinal enganei-me... nem ela lá estava... nem as respostas a devem ter deixado “muito preocupada”.
Tornaram a falar das “Reformas Estruturais” (acho que estou a ficar com raiva. Não sei se às “Reformas”... se às pessoas que delas falam...) que já deveriam ter sido feitas há muitos anos (talvez “pra aí” no tempo do D. Afonso III. O tal Rei de “Portugal e dos Algarves).
Ouvi um “nuestro hermano” a dizer que “o pessoal” lá por Espanha também anda todo “desmoralizado” (nós por cá também...) mas que os portugueses, neste aspecto, encaravam “a crise” bem melhor do que lá (Pudera!... convivemos com ela à tanto tempo que já a tratamos por “tu”...).
Ouvi um sociólogo falar do “problema” das migrações (o ser humano há séculos que faz migrações) e da sua “ligação” com a crise. E depois não tive “mais pachorra”... para aguentar o “blá-blá” dos “ilustres iluminados”...
Este programa fez-me lembrar uma daquelas laranjas muito bonitas, num expositor de hipermercado, que quando as vamos comer estão... completamente “secas”.
Quanto à “Crise” parece que ainda vamos que a ter que aturar por mais algum tempo... ou talvez não. Há quem diga que no final de 2010... a “Crise” irá sumir-se e, digo eu, tirar umas férias numa qualquer ilha deserta... a apanhar sol e a beber umas “margueritas”.
Alvarez Virchaw – 10 de Março de 2009
Sinceramente fiquei decepcionado!...
Na SIC o Mário Crespo colocou algumas questões (sobre a crise... claro) ao “ilustríssimo” Dr. Medina Carreira e as respostas foram (no mínimo) confrangedoras...
Além dum “dejá vu” em relação aos políticos e governantes deste país (coisas que todos nós já sabemos de “ginjeira”) terminou com um... Regime Presidencialista... como solução (imediata) para a mudança.
Falou das “Reformas Estruturais” que deveriam ter sido feitas e não foram... (esta das “Reformas Estruturais” é das tais “coisas” que toda a gente fala mas... que ninguém sabe muito bem o que é. Ou pelo menos nos moldes em que nos são “explicadas”).
A certa altura, do programa, o Dr. Medina Carreira queixou-se que poucos portugueses estariam naquela altura a vê-lo e ouvi-lo (e que portanto a sua “mensagem” chegaria uma ínfima parte dos seus conterrâneos). Mas “todo o mundo” já sabe da corrupção que grassa no mundo das finanças... da política... do desporto (só para falar nos casos mais mediáticos). São tantos os exemplos que estes últimos anos nos têm chegado ao conhecimento (e que “caiem no esquecimento” ou são arquivados) que até na mais recôndita aldeia deste “nosso” Portugal sabem que algo “vai mal”, que os “políticos são todos uns mentirosos” e “que a justiça é só para alguns”.
Queixou-se igualmente do “pouco tempo” que lhe era concedido falar (meia hora). Que precisaria “para aí de duas horas” para ir “mais fundo das questões” (e depois veio a “alfinetada” dizendo que as televisões são “clientes dos partidos”... o que neste caso até é verdade). Mas o que é certo é que durante a “dita meia-hora” fez-me lembrar, sem querer ofender esta “ilustríssima personagem”, um “burro a andar à nora” (não querendo ofender igualmente a “alimária” que continua por esse mundo fora a trabalhar que nem uma desalmada...). Falou... falou... e... “não disse nada”.
Melhor dizendo... disse... mas nada daquilo que nós não soubéssemos já!... (e continuo muito bem sem perceber aquela do “Regime Presidencialista”. Ou se calhar... também era para não se perceber... digo eu).
Depois na RTP 1 assisti ao “Prós e Contras”. O assunto qual era? Vá lá adivinhem?
Isso mesmo... A Crise!... ou melhor “Como Responder à Crise?”
Eu ainda pensei por lá ver a D. Crise, toda engalanada e sentada numa poltrona, pronta para ouvir todas as respostas que tinham para lhe dar. Afinal enganei-me... nem ela lá estava... nem as respostas a devem ter deixado “muito preocupada”.
Tornaram a falar das “Reformas Estruturais” (acho que estou a ficar com raiva. Não sei se às “Reformas”... se às pessoas que delas falam...) que já deveriam ter sido feitas há muitos anos (talvez “pra aí” no tempo do D. Afonso III. O tal Rei de “Portugal e dos Algarves).
Ouvi um “nuestro hermano” a dizer que “o pessoal” lá por Espanha também anda todo “desmoralizado” (nós por cá também...) mas que os portugueses, neste aspecto, encaravam “a crise” bem melhor do que lá (Pudera!... convivemos com ela à tanto tempo que já a tratamos por “tu”...).
Ouvi um sociólogo falar do “problema” das migrações (o ser humano há séculos que faz migrações) e da sua “ligação” com a crise. E depois não tive “mais pachorra”... para aguentar o “blá-blá” dos “ilustres iluminados”...
Este programa fez-me lembrar uma daquelas laranjas muito bonitas, num expositor de hipermercado, que quando as vamos comer estão... completamente “secas”.
Quanto à “Crise” parece que ainda vamos que a ter que aturar por mais algum tempo... ou talvez não. Há quem diga que no final de 2010... a “Crise” irá sumir-se e, digo eu, tirar umas férias numa qualquer ilha deserta... a apanhar sol e a beber umas “margueritas”.
Alvarez Virchaw – 10 de Março de 2009
segunda-feira, 9 de março de 2009
Depois do fim-de-semana!...
O fim-de-semana, como sempre, passou demasiado depressa. Um pouco à semelhança do que se passa na nossa vida quotidiana...
É urgente, cada vez mais, paramos e reflectirmos sobre o que se está a passar a nivel das sociedades...
"Contra a escola-armazém "
Merece toda a atenção a proposta de escola a tempo inteiro (das 7h30 às 19h30?), formulada pela Confederação Nacional das Associações de Pais (Confap). Percebe-se o ponto de vista dos proponentes: como ambos os progenitores trabalham o dia inteiro, será melhor deixar as crianças na escola do que sozinhas em casa ou sem controlo na rua, porque a escola ainda é um território com relativa segurança. Compreende-se também a dificuldade de muitos pais em assegurarem um transporte dos filhos a horas convenientes, sobretudo nas zonas urbanas: com o trânsito caótico e o patrão a pressionar para que não saiam cedo, será melhor trabalhar um pouco mais e ir buscar os filhos mais tarde.
Ao contrário do que parecia em declarações minhas mal transcritas no PÚBLICO de 7 de Fevereiro, eu não creio à partida que será muito mau para os alunos ficar tanto tempo na escola. Quando citei o filme Paranoid Park, de Gus von Sant, pretendia apenas chamar a atenção para tantas crianças que, na escola e em casa, não conseguem consolidar laços afectivos profundos com adultos, por falta de disponibilidade destes. É que não consigo conceber um desenvolvimento da personalidade sem um conjunto de identificações com figuras de referência, nos diversos territórios onde os mais novos se movem.
O meu argumento é outro: não estaremos a remediar à pressa um mal-estar civilizacional, pedindo aos professores (mais uma vez…) que substituam a família?
Se os pais têm maus horários, não deveriam reivindicar melhores condições de trabalho, que passassem, por exemplo, pelo encurtamento da hora do almoço, de modo a poderem chegar mais cedo, a tempo de estar com os filhos? Não deveria ser esse um projecto de luta das associações de pais?
Importa também reflectir sobre as funções da escola. Temos na cabeça um modelo escolar muito virado para a transmissão concreta de conhecimentos, mas a escola actual é uma segunda casa e os professores, na sua grande maioria, não fazem só a instrução dos alunos, são agentes decisivos para o seu bem-estar: perante a indisponibilidade de muitos pais e face a famílias sem coesão onde não é rara a doença mental, são os promotores (tantas vezes únicos!) das regras de relacionamento interpessoal e dos valores éticos fundamentais para a sobrevivência dos mais novos. Perante o caos ou o vazio de muitas casas, os docentes, tantas vezes sem condições e submersos pela burocracia ministerial, acabam por conseguir guiar os estudantes na compreensão do mundo. A escola já não é, portanto, apenas um local onde se dá instrução, é um território crucial para a socialização e educação (no sentido amplo) dos nossos jovens. Daqui decorre que, como já se pediu muito à escola e aos professores, não se pode pedir mais: é tempo de reflectirmos sobre o que de facto lá se passa, em vez de ampliarmos as funções dos estabelecimentos de ensino, numa direcção desconhecida. Por isso entendo que a proposta de alargar o tempo passado na escola não está no caminho certo, porque arriscamos transformá-la num armazém de crianças, com os pais a pensar cada vez mais na sua vida profissional.
A nível da família, constato muitas vezes uma diminuição do prazer dos adultos no convívio com as crianças: vejo pais exaustos, desejosos de que os filhos se deitem depressa, ou pelo menos com esperança de que as diversas amas electrónicas os mantenham em sossego durante muito tempo. Também aqui se impõe uma reflexão sobre o significado actual da vida em família: para mim, ensinado pela Psicologia e Psiquiatria de que é fundamental a vinculação de uma criança a um adulto seguro e disponível, não faz sentido aceitar que esse desígnio possa alguma vez ser bem substituído por uma instituição como a escola, por melhor que ela seja. Gostaria, pois, que os pais se unissem para reivindicar mais tempo junto dos filhos depois do seu nascimento, que fizessem pressão nas autarquias para a organização de uma rede eficiente de transportes escolares, ou que sensibilizassem o mundo empresarial para horários com a necessária rentabilidade, mas mais compatíveis com a educação dos filhos e com a vida em família.
Aos professores, depois de um ano de grande desgaste emocional, conviria que não aceitassem mais esta “proletarização” do seu desempenho: é que passar filmes para os meninos depois de tantas aulas dadas - como foi sugerido pelos autores da proposta que agora comento - não parece muito gratificante e contribuirá, mais uma vez, para a sua sobrecarga e para a desresponsabilização dos pais.
Ao contrário do que parecia em declarações minhas mal transcritas no PÚBLICO de 7 de Fevereiro, eu não creio à partida que será muito mau para os alunos ficar tanto tempo na escola. Quando citei o filme Paranoid Park, de Gus von Sant, pretendia apenas chamar a atenção para tantas crianças que, na escola e em casa, não conseguem consolidar laços afectivos profundos com adultos, por falta de disponibilidade destes. É que não consigo conceber um desenvolvimento da personalidade sem um conjunto de identificações com figuras de referência, nos diversos territórios onde os mais novos se movem.
O meu argumento é outro: não estaremos a remediar à pressa um mal-estar civilizacional, pedindo aos professores (mais uma vez…) que substituam a família?
Se os pais têm maus horários, não deveriam reivindicar melhores condições de trabalho, que passassem, por exemplo, pelo encurtamento da hora do almoço, de modo a poderem chegar mais cedo, a tempo de estar com os filhos? Não deveria ser esse um projecto de luta das associações de pais?
Importa também reflectir sobre as funções da escola. Temos na cabeça um modelo escolar muito virado para a transmissão concreta de conhecimentos, mas a escola actual é uma segunda casa e os professores, na sua grande maioria, não fazem só a instrução dos alunos, são agentes decisivos para o seu bem-estar: perante a indisponibilidade de muitos pais e face a famílias sem coesão onde não é rara a doença mental, são os promotores (tantas vezes únicos!) das regras de relacionamento interpessoal e dos valores éticos fundamentais para a sobrevivência dos mais novos. Perante o caos ou o vazio de muitas casas, os docentes, tantas vezes sem condições e submersos pela burocracia ministerial, acabam por conseguir guiar os estudantes na compreensão do mundo. A escola já não é, portanto, apenas um local onde se dá instrução, é um território crucial para a socialização e educação (no sentido amplo) dos nossos jovens. Daqui decorre que, como já se pediu muito à escola e aos professores, não se pode pedir mais: é tempo de reflectirmos sobre o que de facto lá se passa, em vez de ampliarmos as funções dos estabelecimentos de ensino, numa direcção desconhecida. Por isso entendo que a proposta de alargar o tempo passado na escola não está no caminho certo, porque arriscamos transformá-la num armazém de crianças, com os pais a pensar cada vez mais na sua vida profissional.
A nível da família, constato muitas vezes uma diminuição do prazer dos adultos no convívio com as crianças: vejo pais exaustos, desejosos de que os filhos se deitem depressa, ou pelo menos com esperança de que as diversas amas electrónicas os mantenham em sossego durante muito tempo. Também aqui se impõe uma reflexão sobre o significado actual da vida em família: para mim, ensinado pela Psicologia e Psiquiatria de que é fundamental a vinculação de uma criança a um adulto seguro e disponível, não faz sentido aceitar que esse desígnio possa alguma vez ser bem substituído por uma instituição como a escola, por melhor que ela seja. Gostaria, pois, que os pais se unissem para reivindicar mais tempo junto dos filhos depois do seu nascimento, que fizessem pressão nas autarquias para a organização de uma rede eficiente de transportes escolares, ou que sensibilizassem o mundo empresarial para horários com a necessária rentabilidade, mas mais compatíveis com a educação dos filhos e com a vida em família.
Aos professores, depois de um ano de grande desgaste emocional, conviria que não aceitassem mais esta “proletarização” do seu desempenho: é que passar filmes para os meninos depois de tantas aulas dadas - como foi sugerido pelos autores da proposta que agora comento - não parece muito gratificante e contribuirá, mais uma vez, para a sua sobrecarga e para a desresponsabilização dos pais.
Daniel Sampaio (In Jornal Público) 15 de Fevereiro de 2009
sexta-feira, 6 de março de 2009
quinta-feira, 5 de março de 2009
Então... mas a crise é só para alguns?
Eurodeputados portugueses passam a ganhar o dobro
Aumentos. A partir das próximas eleições europeias, que em Portugal se realizam a 7 de Junho, os eurodeputados vão passar a ganhar um vencimento único. No caso dos portugueses, o aumento vai para o dobro do que ganhavam até aqui. De 3815 euros passam para os 7665 brutos. Isto sem esquecer outros subsídios.
O argumento é de que: "Este Estatuto põe fim à violação do princípio de trabalho igual por salário igual".
Em consequência do novo estatuto, e feitas as contas aos descontos a que são submetidos os salários, os parlamentares portugueses passarão a ganhar, em valor líquido, 5963 euros, quando, até aqui recebiam 2525 euros líquidos por mês.Além disso, a juntar à remuneração propriamente dita, o PE transporta das regras actuais para as que entrarão em vigor depois de Junho, o chamado "subsídio de estadia" aos deputados. Esta ajuda de custo, no valor actual de 287 euros diários, é devida aos deputados "por cada dia de comparência a reuniões oficiais dos órgãos do Parlamento de que o deputado faça parte e que se realizem no interior da UE", lê-se no regulamento disponível no sítio da Internet do PE. A esta quantia acrescerá ainda uma outra, de 143 euros, caso a comparência tenha de ser feita fora da UE.
DN – 05/03/2009 - ALEXANDRA CARREIRA, Bruxelas
Aumentos. A partir das próximas eleições europeias, que em Portugal se realizam a 7 de Junho, os eurodeputados vão passar a ganhar um vencimento único. No caso dos portugueses, o aumento vai para o dobro do que ganhavam até aqui. De 3815 euros passam para os 7665 brutos. Isto sem esquecer outros subsídios.
O argumento é de que: "Este Estatuto põe fim à violação do princípio de trabalho igual por salário igual".
Em consequência do novo estatuto, e feitas as contas aos descontos a que são submetidos os salários, os parlamentares portugueses passarão a ganhar, em valor líquido, 5963 euros, quando, até aqui recebiam 2525 euros líquidos por mês.Além disso, a juntar à remuneração propriamente dita, o PE transporta das regras actuais para as que entrarão em vigor depois de Junho, o chamado "subsídio de estadia" aos deputados. Esta ajuda de custo, no valor actual de 287 euros diários, é devida aos deputados "por cada dia de comparência a reuniões oficiais dos órgãos do Parlamento de que o deputado faça parte e que se realizem no interior da UE", lê-se no regulamento disponível no sítio da Internet do PE. A esta quantia acrescerá ainda uma outra, de 143 euros, caso a comparência tenha de ser feita fora da UE.
DN – 05/03/2009 - ALEXANDRA CARREIRA, Bruxelas
Dificuldade em “ter uma refeição”
O valor das bolsas de estudo no ensino público pode variar entre os 50 e os 250 euros, conforme a instituição.
Em tempos de crise esta ajuda parece não chegar e às associações de estudantes chegam já pedidos de auxílio. “Há inúmeras conversas de corredor onde se percebe que há alunos com dificuldades em ter uma refeição e em pagar o alojamento”, explicou ao nosso jornal Filipe Almeida, presidente da Federação Académica do Porto, acrescentando que “cada vez há mais alunos a recorrer às ofertas de emprego” publicitadas pela FAP. Para todos. Por sua vez, o presidente da Associação Académica da Universidade do Minho relatou que “em alguns casos os alunos têm de abandonar os cursos ou recorrer ao trabalho além do estudo”. Salientando que “a crise afecta as famílias dos alunos”, Pedro Soares sublinhou que “o ensino deve ser para todos e não só para os que têm dinheiro”.
Jornal “Meia Hora” de 05/03/2009
O valor das bolsas de estudo no ensino público pode variar entre os 50 e os 250 euros, conforme a instituição.
Em tempos de crise esta ajuda parece não chegar e às associações de estudantes chegam já pedidos de auxílio. “Há inúmeras conversas de corredor onde se percebe que há alunos com dificuldades em ter uma refeição e em pagar o alojamento”, explicou ao nosso jornal Filipe Almeida, presidente da Federação Académica do Porto, acrescentando que “cada vez há mais alunos a recorrer às ofertas de emprego” publicitadas pela FAP. Para todos. Por sua vez, o presidente da Associação Académica da Universidade do Minho relatou que “em alguns casos os alunos têm de abandonar os cursos ou recorrer ao trabalho além do estudo”. Salientando que “a crise afecta as famílias dos alunos”, Pedro Soares sublinhou que “o ensino deve ser para todos e não só para os que têm dinheiro”.
Jornal “Meia Hora” de 05/03/2009
terça-feira, 3 de março de 2009
Portugal não tem uma Democracia
Parte da entrevista, concedida ao DN, publicada no dia 27 de Fevereiro de 2009 pelo Professor Vitorino Magalhães Godinho.
DN -Tem uma perspectiva muito crítica da actual organização da sociedade.
VMG – Historicamente, a seguir à II Guerra Mundial, houve um conjunto de transformações e acções politicas que criaram as economias mistas que funcionavam muitíssimo bem e levantaram a Europa. Deram-lhe um nível de vida e uma capacidade que não existia, foram 30 anos gloriosos em que funcionou muitíssimo bem porque criou sistemas de saúde e de segurança social e houve possibilidade da humanidade se renovar. A partir de certa altura, a reacção de forças económicas oligárquicas, de grandes empresas e forças politicas operaram uma reviravolta – a era de Reagan e de Thatcher – com uma politica oposta que destruiu o que se tinha feito.
...
DN – Acusa a classe politica pela situação. Acha que a nossa classe politica não está à altura?
VMG – Acho que a nossa classe politica é mais do que lamentável. Os nossos políticos não têm ideias e não debatem. Assiste-se a qualquer sessão do Parlamento e verifica-se que há afirmações mas nunca as demonstram. Diz-se que o TGV é fundamental mas ninguém o justifica. Quando há uma crítica ninguém responde, porque há uma incapacidade de argumentar nos nossos políticos. Em todos!
DN – À excepção do Primeiro-ministro?
VMG – É a pessoa que mais me confrange porque ainda não o ouvi responder a uma pergunta com argumentação. Até deixei de o escutar.
DN – Então pensa que este Governo não sabe o que está a fazer?
VMG – Sabe sim, infelizmente. Sabe como destruir o Sistema Nacional de Saúde e o Ensino Público, como entregar as universidades aos privados... Sabe pôr de parte todas as conquistas do mundo civilizado.
...
DN – Houve, então, um esvaziamento das ideias?
VMG – Os que dizem que as ideologias morreram têm uma ideologia: a actividade privada, o lucro e um sistema de governação que na aparência imita a democracia mas não o é realmente. Nós não temos democracia em Portugal, isso é fantasia.
DN – O que nós temos?
VMG – Um Estado corporativo como Salazar sonhou e nunca conseguiu. Realizámos o que desejava, que é o poder nas mãos de organizações profissionais.
DN -Tem uma perspectiva muito crítica da actual organização da sociedade.
VMG – Historicamente, a seguir à II Guerra Mundial, houve um conjunto de transformações e acções politicas que criaram as economias mistas que funcionavam muitíssimo bem e levantaram a Europa. Deram-lhe um nível de vida e uma capacidade que não existia, foram 30 anos gloriosos em que funcionou muitíssimo bem porque criou sistemas de saúde e de segurança social e houve possibilidade da humanidade se renovar. A partir de certa altura, a reacção de forças económicas oligárquicas, de grandes empresas e forças politicas operaram uma reviravolta – a era de Reagan e de Thatcher – com uma politica oposta que destruiu o que se tinha feito.
...
DN – Acusa a classe politica pela situação. Acha que a nossa classe politica não está à altura?
VMG – Acho que a nossa classe politica é mais do que lamentável. Os nossos políticos não têm ideias e não debatem. Assiste-se a qualquer sessão do Parlamento e verifica-se que há afirmações mas nunca as demonstram. Diz-se que o TGV é fundamental mas ninguém o justifica. Quando há uma crítica ninguém responde, porque há uma incapacidade de argumentar nos nossos políticos. Em todos!
DN – À excepção do Primeiro-ministro?
VMG – É a pessoa que mais me confrange porque ainda não o ouvi responder a uma pergunta com argumentação. Até deixei de o escutar.
DN – Então pensa que este Governo não sabe o que está a fazer?
VMG – Sabe sim, infelizmente. Sabe como destruir o Sistema Nacional de Saúde e o Ensino Público, como entregar as universidades aos privados... Sabe pôr de parte todas as conquistas do mundo civilizado.
...
DN – Houve, então, um esvaziamento das ideias?
VMG – Os que dizem que as ideologias morreram têm uma ideologia: a actividade privada, o lucro e um sistema de governação que na aparência imita a democracia mas não o é realmente. Nós não temos democracia em Portugal, isso é fantasia.
DN – O que nós temos?
VMG – Um Estado corporativo como Salazar sonhou e nunca conseguiu. Realizámos o que desejava, que é o poder nas mãos de organizações profissionais.
segunda-feira, 2 de março de 2009
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