terça-feira, 19 de outubro de 2010

Toda a economia é política


A economia neoliberal criou algumas condições para a autodestruição económica real. A descoberta de caminhos alternativos vai passar por Coimbra já esta semana.

A crise económica do capitalismo global está a gerar uma situação paradoxal. Por um lado há um reforço das políticas económicas que nos conduziram à actual crise e que prometem gerar ainda mais crises e desigualdades sociais e regionais - até à reversão política deste processo ou até à autodestruição do euro. Por outro lado existe uma intensificação do debate entre os estudiosos da economia sobre a melhor maneira de pensar as relações sociais e políticas subjacentes à provisão económica e acerca dos valores que devem orientar a sua reorganização democrática.

A crise reforçou duas tendências intelectuais positivas que podem, a prazo, ter consequências políticas fundamentais. Isto acreditando que as ideias são uma força material quando adquirem a força cidadã. Em primeiro lugar, a crise reforçou o interesse das diversas ciências sociais - da sociologia à psicologia social - pelos processos económicos reais. Em segundo lugar, a crise deu alguma visibilidade a correntes que dentro da própria ciência económica há muito vinham afirmando que a "rainha das ciências sociais" vai nua: a fixação da maioria dos economistas por idealismos mercantis, por uma autêntica utopia económica - reproduziram a sua formação académica - teve consequências científicas e políticas desastrosas.

A ciência económica convencional tornou-se incapaz de explicar os mecanismos dos capitalismos realmente existentes e as exigências de reforma para tornar os sistemas económicos mais sustentáveis social e ecologicamente. A coisa foi ainda pior: a ciência económica foi colonizada pelo dinheiro e tornou-se uma engenharia política ao serviço dos poderes capitalistas mais perniciosos. Em certa medida, a economia neoliberal criou as condições intelectuais e institucionais para a autodestruição económica real.

Neste contexto, a economia é de facto muito importante para ser monopólio de uma economia convencional, que tem também imensas responsabilidades na desastrosa austeridade assimétrica que agora se segue. Esta convicção está na base da conferência internacional que organizamos no Centro de Estudos Sociais (CES), em Coimbra, entre os próximos dias 21 e 23 de Outubro. O leitor português é muito bem-vindo ao esforço internacional para "renovar a economia política". Poderá assistir a dezenas de comunicações sobre economia em que o objecto de estudo é mais importante do que as divisões disciplinares tantas vezes artificiais.

por João Rodrigues, Publicado em 18 de Outubro de 2010

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