sexta-feira, 7 de setembro de 2012

É a natureza das coisas, estúpido!


O SR.MINISTRO da Educação lançou as bases da condenação ao ensino profissional de todos os alunos que chumbarem no básico.

Independentemente do facto de não o ter feito de forma deliberada. Nem terminante.

Qualquer assessor lhe dirá, porém, que, do ponto de vista de imagem, de apreensão pública, de sensibilidade de opinião pública, pais, alunos, professores, televisões, jornais, rádios, net, é o que acaba de fazer.

Não que não haja qualidade, dignidade e honra no ensino profissional. Não que o país não precise desse ensino e desses alunos. Mas que é assim que o sr. ministro da Educação deixa que as coisas sejam apresentadas. Em termos de ameaça velada. E de implícita pedagogia classista. Não é por acaso que a memória empresarial mais dilatada, aquela que não dizia “margem sul”, que dizia, directamente, “CUF”, ainda hoje evoca, a propósito, o para ela tempo de ouro das escolas industriais e comerciais.

Somos todos livres, pais e escolas. E até, essencialmente, alunos. E estamos todos a evoluir, os alunos a uma velocidade talvez maior. E mais festiva. Não temos de esperar, dentro de um frasco, que nos trasfeguem. Ou, como canta Manu Chao, El presente es siempre diferente!

Isto de as dificuldades de aprendizagem, o desaproveitamento escolar, os chumbos constituírem uma tempestade a encher, um furacão a passar do grau 1 para o grau 2 e do grau 2 para o grau 3, tudo isto a crescer e a enegrecer perante os alunos e as famílias, é insuportável.

Os alunos e os pais têm de ter - independentemente da seriedade do trabalho escolar, dos resultados justos, das classificações verdadeiras, dos não-facilitismos - sempre abertos todos os caminhos de decisão. Não apenas o caminho das pedras. Todos os caminhos. De outra forma, estamos a shrinkar cabeças. A converter as salas de aulas em caixas de sapatos. A transformar as classificações em cadastros, daqueles antigos. A indignificar o papel dos professores. A indignificar o papel das escolas.

Dir-se-á que se trata de um projecto-piloto. Dir-se-á depois que tudo é reversível.

Porque - e aqui entra-se numa floresta apertada, num jardim de muitos enganos prováveis, de muitos recuos e de muitos comunicados - parece que cada escola escolhe as 3 profissões que os alunos deverão aprender durante os 3 anos do 3º Ciclo. Porque as áreas fundamentais parece que são a agricultura e a indústria. Porque parece que tudo ou quase tudo envolve um acordo com o tecido empresarial da zona da escola. Porque parece que há um equilíbrio entre, por um lado o Português, a Matemática e o Inglês, e por outro 3 ofícios práticos, que podem ser o de cozinheiro, o de talhante, o de mecânico, o de electricista, o de canalizador e o de produtor agrícola. Porque parece que há equipas de acompanhamento e orientação permanentemente a zelar. Porque no final de cada ciclo (9º ou 12.º) parece que os alunos podem mudar para a via regular de ensino (desde que façam as provas ou exames requeridos). Dir-se-á, insistir-se-á, que tudo é reversível.

Responde-se que, nestes termos, e essencialmente, nada é reversível, nada é totalmente reversível porque o mal está feito. Não todo, mas muito. A confusão está instalada. A ameaça está desenhada. O medo está inoculado. A partir daqui, é sempre a andar, para trás!

Somos todos, pais, escolas, alunos, livres. O sr. ministro da Educação não é, porém, livre de não ser inteligente e minimamente sensível. Devendo acrescentar-se que o sr. ministro também é ministro da Ciência. O que aumenta, e não pouco, como ele sabe, na matéria, a sua responsabilidade. E isto, se o Prof. Nuno Crato perceber bem, é uma palavra de consideração por ele.

Sinceramente preferia que o Prof. Nuno Crato não tivesse de ir, nos tempos mais próximos, fazer uma viagem a Timor.

* Em memória da frase feita “É a Economia, estúpido!”

Artur Portela

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