quarta-feira, 21 de maio de 2008

Comboio de "camelos"


Andar de Camelo – José Júdice – Jornal “Metro” de 21 de Maio de 2008

A gasolina sobe, sobe como o balão, e o Governo fica a olhar como um vulgar basbaque.

Nem todos. O ministro da Economia, para o não tomarmos por papalvo, recorreu aos seus extraordinários poderes que lhe foram conferidos pelo povo e anunciou que ia “mandar investigar” o mistério pela Autoridade da Concorrência. Por que é que a gasolina e o gasóleo estão tão caros, por que é que sobem todos os dias, por que é que, porque é que, por que é que há tantas perguntas a que nem um ministro da Economia consegue dar resposta?

Não sendo nem ministro nem autoridade em coisa nenhuma, atrevo-me no entanto a adiantar uma resposta à curiosidade ministerial. A gasolina e o gasóleo sobem porque o preço do petróleo não pára de subir à saída do poço. Dou esta informação de borla ao Governo, embora ela me tenha custado os 90 cêntimos que dei pelo jornal de ontem. Espero pelo menos uma comenda no próximo 10 de Junho por este serviço prestado ao esclarecimento da perplexidade ministerial. O que esta informação não esclarece, no entanto, é por que é que a gasolina e o gasóleo são tão caros. E adianto uma teoria: a gasolina e o gasóleo são tão caros não porque o petróleo seja caro, mas porque mais de metade do dinheiro que pagamos por um litro de combustível vai direitinho para os cofres do Estado. Não vai para o dono da bomba de gasolina. Não vai para a Galp ou Petrogal. Não vai para um xeique árabe sentado debaixo da palmeira a olhar os euros que nos saem do bolso a pingar na sua conta secreta na Suíça. Não. A maior parte do dinheiro que pagamos pelos combustíveis vai para o Imposto sobre Combustíveis, sobre o qual ainda incide o IVA. Vai direitinho para a Direcção-Geral de Contribuições e Impostos. Para o senhor ministro das Finanças. Para saber por que é que a gasolina está tão cara o ministro da Economia não precisava de mandar investigar. Bastava perguntar ao seu colega do lado.
De cada vez que o preço do barril de petróleo sobe ganham os donos do petróleo e ganha o Governo. Um barril de petróleo bruto tem à volta de 160 litros o que dá por litro, se não aumentou entretanto, 50 cêntimos. Do euro de diferença, uma parte muito pequena fica nas refinarias e nos distribuidores. O grosso vai para o Governo, que arrecada por litro mais ou menos o que arrecada o xeique. E não há nada a fazer. Precisamos de gasolina e gasóleo porque precisamos de transportes motorizados. O Governo é que anda montado em nós, os novos camelos.

Esta crónica de José Júdice levanta-me algumas questões com as quais quero reflectir, um pouco, convosco.
Ele diz que o grosso do aumento da gasolina e do gasóleo vai para o Estado no imposto que sobre eles recaem. Nós todos já sabemos isso através dos vários comentários de economistas. Mas também sabemos dos lucros que as gasolineiras têm anualmente. E os Bancos... e as Seguradoras... e os “Grupos” SONAE, Portugal Telecom, etc., etc., etc...
Ou seja... ganham (quase) todos. Quem é que realmente perde? O “Zé Povinho”. Somos nós que aguentamos todo e qualquer aumento. Ou seja o “capital” nunca perde...
Mas já nos fizeram saber que os aumentos não vão ficar por aqui. O “efeito dominó” vai-se reflectir no aumento dos transportes que por sua vez se reflecte no preço dos bens essenciais e por “aí fora”...
O “fosso” que se está a cavar entre pobres e “muito ricos” é cada vez maior.

O “Zé” vai apertando. A questão está em saber até quando vai aguentar...

1 comentário:

Anónimo disse...

Olá Alvarez

Para já um obrigado pelo comentário deixado no meu «Deixa-me!...» :)

O Júdice vê mal. O problema não está no IVA pois o (des)governo não o aumentou, o problema está mesmo nos vampiros das petrolíferas. Fosse o litro de gasolina a 1€ o governo sempre lá foi buscar o 21%, se a gasolina custa 2€ o governo ganha mais pois os 21% incide sobre 2€ e não 1, mais ganha as petrolíferas que aumentam o capital e o zé povinho cego, surdo e mudo a pagar como sempre, verdade seja dita.

Como diria o Pinheiro Azevedo: «O povo é sereno».

A Galp, Repsol e BP de mim é que não vão ver mais um "chavo". Afinal tenho a "Total" tão perto e, pelos vistos, o petróleo para essas petrolíferas devem vir do deserto do Namibe em Angola e não das arábias.

Se todos os portugueses fizessem isso (parece que até o estão a fazer pois já houve um recuo da Galp num possível aumento ontem), todos os adm. dessas empresas deixariam de comer esturjão à nossa custa.

Um abraço