sexta-feira, 12 de dezembro de 2008

Balada para outras Isabellas. Por Lisieux…



Recebi esta mensagem através de um "pps". Não resisti a transcrevê-la...


Olá! Eu vim lhe contar um pouco da minha história...
Peço atenção, seu 'dotô', um instante, não demora...

Meu nome não é Isabella nem 'caí' de uma janela do quarto no sexto andar... (será que pensaram, os insanos, que ela sabia voar?)

Não moro num prédio equipado, não tenho motos, brinquedos, nem piscina pra nadar... Eu brinco, às vezes, nas poças de chuva, com gatos, latinhas, bolinhas de gude... isso quando não tenho que a mãe ajudar...

Não sei dançar, e não brinco como menina educada, porque aprendi, desde cedo, lá no morro onde nasci, que não importa o sexo da criança: menino ou menina, a experiência, é viver o teatro da sobrevivência...

Não me chamo Isabella... nem fui morta (ainda) por meu pai ou madastra... mas morro um pouco, a cada dia, quando sou espancada. E morro também, assim, engasgada, obrigada a me calar quando tenho mãos sobre mim... nem sempre a me sufocar, mas explorando, de um jeito esquisito, que nem entendo direito, no meu corpo sem contornos...
Meu nome ,não é Isabella... Não tenho cabelos lisos, nem tenho olhinhos espertos... Ao contrário: meus olhos são opacos, talvez, por não querer enxergar minha dura realidade...

Também não faço teatros, lá no palco da escolinha... isso não é para mim... Quando vou à escola, é somente pra comer a merenda que me dão... pois muitas vezes, em casa, não temos sequer o pão...
O máximo que sei é correr: morro abaixo, morro acima, entre os carros dos sinais... para ganhar um trocado, ou para fugir dos adultos, que insistem em me machucar...
Eu não me chamo Isabella... mas, como ela,(ou até mais!) eu sofro... e diariamente... Tenho marcas de pancadas, queimaduras de cigarros, tenho ossos fraturados, boca sangrando, hematomas, que mãos e pés gigantescos me provocam sem motivo...
Não morri, como Isabella... Ainda não... mas irmãos, amiguinhos, conhecidos, eu sempre vejo morrer... Quem matou? Nunca se sabe... 'ele caiu', 'tropeçou' 'queimou-se por acidente' 'estrupada?', 'coitadinha'... ‘não fui eu', diz o padrasto, 'nem eu', diz a mãe omissa... e eles não têm nem quem reze para eles, uma missa...
Eu não me chamo Isabella... sou Maria, Rita, João... Sou Josefina, sou Mirtes, sou Paulo, Sebastião.. Sou tantas, tantas crianças, que todo dia a omissão de todos deixa morrer...
Engraçado é que ninguém, faz passeata por mim a imprensa não divulga, o 'figurão' não se importa, a classe média não grita, os ricaços dão de ombros...
Que hipocrisia é essa, de chorar por uma só? São tantas as Isabelas violentadas sem dó... Mas que importam os escombros, a escória da sociedade?
Se não me chamo Isabella, não mereço piedade.

Texto: Jornal do Commercio
PS: colaboração do leitor atento Ruy Ferreira

1 comentário:

lisieux disse...

Olá! Que legal que vc gostou do meu texto! Pena que eu nem saiba que ele tenha sido postado no Jornal do Commercio (e, se foi, não foi com minha autorização). Portanto, não acho justo que se dê "crédito" ao jornal no pps. Aliás, estou procurando a autora do mesmo. Vc conhece?
Obrigada pelo elogio ao meu texto!
Terezinha de Lisieux (ou simplesmente, lisieux)
bjoka