quinta-feira, 4 de agosto de 2011

Os pobres, os outros e Jardim


"All goodfellas" que nos fod... a torto e a direito.


1. O "Super-Álvaro", ministro da Economia, Obras Públicas e Emprego, é uma pessoa de quem vale a pena esperar coelhos da cartola - por todas as razões (humanas, intelectuais e de seriedade). Mas tem pela frente tarefas de tal complexidade que, quando tapa de um lado, corre o risco de destapar do outro.

Vejamos a medida para fazer face ao aumento de transportes, e que o JN pôs ontem na capa: descontos nos transportes para quem é pobre.

São quase dois milhões - pensionistas, beneficiários do rendimento de inserção, pessoas com salário mínimo e desempregados. É justo? Sim. Mas, já agora: e as pessoas que ganham 500 euros e vão trabalhar todos os dias? E as de 600 euros, com filhos, família...? Já não são pobres? Não reconhecemos, sistematicamente, o esforço de quem vive no limiar da pobreza e luta contra ela de todas as formas que pode. Se quem recebe 600 euros não tem direito a desconto nos transportes, nem gás ou luz bonificados, nem livros grátis para os filhos na escola, etc., muitas pessoas pensam: ok, mais vale desistir e alguém há-de tomar conta de mim. Exactamente o contrário do que precisamos.

2. É que, ainda por cima, o preço dos transportes vai voltar a subir "brutalmente" nos próximos meses, dizia a notícia de ontem. Agora, imagine-se a maioria dos trabalhadores, com um ou dois filhos a estudar, a terem de novo passes mais caros 10 ou 15% em Janeiro... Por isso reafirmo que a solução para as empresas de transportes não pode passar apenas pelo utilizador-pagador. Há que chamar a esta conta os não-utilizadores, ou seja, as pessoas que usam os automóveis. Com um pressuposto óbvio: reforçar-se a oferta de transporte público, investir em novas linhas (ainda que, admito, não de imediato). Fazer-se um plano a 10 anos para as grandes cidades. Tem de haver um equilíbrio com sentido. Sem isso, é só dor.

3. Aliás, o Jornal de Negócios de ontem abria uma janela para este assunto. Segundo diz, a Estradas de Portugal pretende colocar portagens em vias ainda isentas. Exemplos: a auto-estrada IC19 Lisboa--Sintra (até agora isenta), a CRIL (Circular Interna de Lisboa), alguns IP com perfil de auto-estrada. No Norte, já se paga tudo, portanto, nenhuma novidade à vista. Não sei se se pretende impor portagens na Segunda Circular/Eixo Norte-Sul (Lisboa), ou na Via de Cintura Interna (Porto), mas as duas não estão na lista. No entanto, o dinheiro parece ser destinado a tapar apenas o próprio buraco da Estradas de Portugal. É pena. Seria uma boa receita para CP e Refer (desde que passem a ser bem geridas), e se se provasse que há nestas localidades oferta digna de transportes públicos. Ainda assim, sobra um factor injusto nesta história das "portagens em todo o lado": o exorbitante preço "Brisa" a todas as estradas, como se todas fossem iguais. Aliás, o Governo devia estar atento às actualizações das portagen profissionais - classes 2, 3 e 4. Têm valores exorbitantes e são um garrote sobre as empresas.

4. Por fim: apetece baixar os braços quando vemos Alberto João Jardim levar sempre a sua avante. Os madeirenses não vão contribuir para a diminuição da dívida nacional com os 50% do subsídio de Natal. São mais 12 milhões a ajudar os desvarios de Jardim porque o dinheiro fica na região. Este homem recebeu 700 milhões de euros por causa da tragédia de 2010 e não admitiu, pelo menos, a irresponsável falta de ordenamento do território da ilha e para cujas consequências foi sistematicamente avisado. A Madeira suspende os planos directores municipais ao sabor das conveniências e não tem em vigor coisas básicas como o Plano de Ordenamento da Orla Costeira aplicável ao território nacional. Em 35 anos, Jardim não conseguiu que a região deixasse de ser dependente da construção e do turismo. Pelo contrário, reforçou esta espiral com uma oligarquia de "boys" e empresas do regime. Quer nova maioria absoluta? Este homem não tem uma ideia nova para a ilha. Vive com uma nova droga financeira que mina o próprio país, o inenarrável off-shore. Francamente: vale a pena ajudar a Madeira, é Portugal. Não vale a pena sustentar o jardim de betão de Jardim.

Crónica de: Daniel Deusdado

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