por ALEXANDRA CARREIRA, Bruxelas
A crise financeira tirou à Islândia o primeiro lugar que ocupava em 2008, lançando-a para um ainda assim honroso terceiro lugar. Quem beneficiou foi a Noruega que já liderara o 'ranking' em 2007. O último lugar é ocupado pelo Níger. Mas entre os dez piores estão Moçambique e Guiné-Bissau. Portugal desceu um lugar em relação ao ano passado.
É a Noruega que torna este ano a assumir o primeiro lugar do Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) da ONU. A Islândia, que em 2008 estava no topo da tabela, saltou para o terceiro lugar, atrás da Austrália. No extremo oposto, Níger é o país com o nível mais baixo de desenvolvimento, seguido do Afeganistão, o que significa que, genericamente, é o país com maior nível de pobreza, com menor esperança de vida à nascença e com menor acesso a cuidados de saúde e educação.
O relatório de desenvolvimento humano das Nações Unidas é hoje apresentado mundialmente em Banguecoque, a capital da Tailândia. O estudo deste ano, que considera dados estatísticos até 2007, centra-se na mobilidade e nos efeitos que a imigração tem no desenvolvimento humano e desafia muitos preconceitos instalados nas sociedades, acima de tudo, do mundo desenvolvido.
Desde logo, o relatório chama a atenção das nações mais industrializadas, sobretudo na Europa, para o envelhecimento da população e, paralelamente, para a combinação deste factor com o encolhimento demográfico das sociedades europeias nas próximas décadas. Até 2050 as Nações Unidas prevêem que a população mundial aumente em mil milhões, quase na totalidade, nos países em desenvolvimento. Já na Europa se prevê, para a mesma data, uma diminuição em 23% da população activa - a que trabalha e paga impostos.
O problema desta tendência demográfica "é óbvio", diz António Vigilante, director da ONU para a Europa Ocidental: A Europa vai precisar de abrir mais as portas a imigrantes que preencham o mercado de trabalho e ajudem a pagar as contribuições sociais da população chamada de "dependente", ou seja, crianças até aos 15 anos e adultos reformados e pensionistas.
Ao mesmo tempo que sublinha os problemas ao nível da demografia, "o relatório da ONU aponta ainda que são falsas as percepções públicas que se têm sobre a imigração, nomeadamente o impacto sobre o emprego e a violência", explica António Vigilante. Diz o relatório que "os migrantes ajudam a aumentar o crescimento económico e dão mais do que aquilo que recebem". Além disso, o estudo sublinha que "genericamente a imigração aumenta o emprego nas comunidades receptoras e melhora os investimentos em novos negócios e iniciativas".
Mas o responsável regional da organização admite que "no contexto actual de recessão houve uma quebra na procura de mão-de-obra imigrante", o que, em linha com as conclusões e recomendações do estudo, choca de frente com as tendências demográficas estimadas para os próximos quarenta anos. "Este não é o momento para proteccionismo anti-imigrante", refere em comunicado Jeni Klugman, directora do estudo da ONU. Depois da recuperação começar a consolidar-se no mundo desenvolvido, a procura de trabalhadores imigrantes vai voltar e esta é, segundo os dados, inevitável se a Europa, em particular, quiser vencer a corrida e manter os níveis de Estado-providência que ainda a definem.
Além disso, as pressões migratórias não se vão sentir apenas na necessidade dos países industrializados. Em 125% é quanto vai aumentar a população activa no continente africano até 2050, 26% na América Latina e 22% na Ásia.
A combinação destes factores conduz às recomendações que os especialistas do Programa de Desenvolvimento da ONU, agência autora do IDH. Os países desenvolvidos têm de deitar abaixo as barreiras à imigração legal através do "aumento dos canais de entrada de trabalhadores, em especial os mais qualificados"; devem "assegurar direitos humanos de todos os migrantes", dos serviços básicos como a educação e saúde, ao direito de voto; e reduzir os custos associados à migração.
Jornal Diário de Notícias de 5 de Outubro de 2009
1 comentário:
Sem querer brincar com coisas
sérias não resisto
a atribuir ao sucesso da Noruega
a crescente exportação de bacalhau para o nosso país
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