(imagem retirada de: barreiro-overnight.blogspot.com/)
"Os salários baixos são necessários para 25% das nossas exportações e nós não podemos perder 25% das nossas exportações". Nem mais, nem menos. Esta frase brutal é da autoria de Francisco Van Zeller, presidente da Confederação da Indústria Portuguesa, que, em entrevista recente, voltou ao ataque contra o aumento do salário mínimo nacional (SMN). É verdade que não é novo e que a sua recorrência talvez já nem surpreenda. Van Zeller tenta, assim, encavalitado nas costas largas da crise, emendar o acordo celebrado na Concertação Social que prevê o aumento gradual do SMN até aos 500 euros em 2011.
São palavras obviamente grotescas. Sobretudo porque dispensam o polimento a que aconselharia o conteúdo, defendendo, em representação dos patrões, a mais miserável interpretação da "competitividade". Pois bem, ele quer falar assim mesmo. É preciso pagar muito pouco e mal, intensificar a exploração e sujeitar esta franja de trabalhadores e trabalhadoras em Portugal ao limiar da pobreza, em nome... da "economia".
É uma ameaça dirigida a toda a gente. Trata-se de aproveitar as dificuldades para congelar as bases da exploração e intensificá-la. Mas é também um aviso e um teste à futura governação de Sócrates, agora sem maioria absoluta e com um significativo crescimento à sua esquerda. Aliás, o mesmo Van Zeller, no dia seguinte às eleições legislativas explicou logo a Sócrates que só poderia governar com a direita. Esta espécie de mordomo dos patrões pressiona porque quer saber se o "seu homem", aquele "felizmente" foi e é o seu primeiro-ministro, está ou não à altura do que aí vem. Perante o "novo Sócrates", aparentemente equidistante e dialogante, que propõe coligações-faz-de-conta a toda a gente, Van Zeller quis pôr-se em cima da balança com todo o peso do poder dos patrões.
Mas não se pode dispensar uma outra leitura. Estas declarações surgem justamente na semana em que se confirmou que em Portugal a pobreza não pára aumentar e afecta cerca de um quinto da população, quando percebemos que muitos destes pobres são pessoas que, mesmo tendo trabalho, não escapam à miséria. Estamos, portanto, para lá da selvajem ofensiva, perante uma disputa sobre o balanço dos últimos desastres provocados pela toxicidade das bolsas e outros carteiristas.
Querem que os pobres paguem a crise. E conseguem. Nada de novo, até aqui: os pobres pagam, todos nós pagamos, esta como todas as crises deste sistema da ganância infinita. Mas, como nos disse Paulo Portas durante a campanha eleitoral, querem também responsabilizar pela crise os pobres, os desempregados, os precários e quem trabalha cada vez mais para receber cada vez menos. Tem que ser às nossas custas. Tem que ser às nossas costas e temos que sentir todo peso, para que eles possam sair da crise às nossas cavalitas.
O descaramento não é apenas uma característica pessoal de Van Zeller. Este homem é mais uma voz - apenas aparentemente desbocada - de ideias que se querem instalar no senso comum. Para lá de Sócrates, dos seus malabarismos passados e futuros, aqui está uma disputa que conta e reclama um combate inadiável.
Tiago Gillot
São palavras obviamente grotescas. Sobretudo porque dispensam o polimento a que aconselharia o conteúdo, defendendo, em representação dos patrões, a mais miserável interpretação da "competitividade". Pois bem, ele quer falar assim mesmo. É preciso pagar muito pouco e mal, intensificar a exploração e sujeitar esta franja de trabalhadores e trabalhadoras em Portugal ao limiar da pobreza, em nome... da "economia".
É uma ameaça dirigida a toda a gente. Trata-se de aproveitar as dificuldades para congelar as bases da exploração e intensificá-la. Mas é também um aviso e um teste à futura governação de Sócrates, agora sem maioria absoluta e com um significativo crescimento à sua esquerda. Aliás, o mesmo Van Zeller, no dia seguinte às eleições legislativas explicou logo a Sócrates que só poderia governar com a direita. Esta espécie de mordomo dos patrões pressiona porque quer saber se o "seu homem", aquele "felizmente" foi e é o seu primeiro-ministro, está ou não à altura do que aí vem. Perante o "novo Sócrates", aparentemente equidistante e dialogante, que propõe coligações-faz-de-conta a toda a gente, Van Zeller quis pôr-se em cima da balança com todo o peso do poder dos patrões.
Mas não se pode dispensar uma outra leitura. Estas declarações surgem justamente na semana em que se confirmou que em Portugal a pobreza não pára aumentar e afecta cerca de um quinto da população, quando percebemos que muitos destes pobres são pessoas que, mesmo tendo trabalho, não escapam à miséria. Estamos, portanto, para lá da selvajem ofensiva, perante uma disputa sobre o balanço dos últimos desastres provocados pela toxicidade das bolsas e outros carteiristas.
Querem que os pobres paguem a crise. E conseguem. Nada de novo, até aqui: os pobres pagam, todos nós pagamos, esta como todas as crises deste sistema da ganância infinita. Mas, como nos disse Paulo Portas durante a campanha eleitoral, querem também responsabilizar pela crise os pobres, os desempregados, os precários e quem trabalha cada vez mais para receber cada vez menos. Tem que ser às nossas custas. Tem que ser às nossas costas e temos que sentir todo peso, para que eles possam sair da crise às nossas cavalitas.
O descaramento não é apenas uma característica pessoal de Van Zeller. Este homem é mais uma voz - apenas aparentemente desbocada - de ideias que se querem instalar no senso comum. Para lá de Sócrates, dos seus malabarismos passados e futuros, aqui está uma disputa que conta e reclama um combate inadiável.
Tiago Gillot
A fábrica Delphi da Guarda, que fabrica cablagens para o sector automóvel e emprega 950 trabalhadores, anunciou hoje, quarta-feira, que vai despedir 500 operários entre o final do ano e o primeiro trimestre de 2010. É provável que saiam 300 até ao final do ano e sejam despedidos mais 200 em 2010. O sindicato fala apenas em "minimizar" os efeitos do despedimento.
Esquerda.net
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