sexta-feira, 1 de fevereiro de 2008

Sud Express - Memória viva


MEMÓRIA VIVE EM NOME DA EMIGRAÇÃO PORTUGUESA
Manuel Madeira fugiu para Paris no início de 1962. Percorreu 400 km a pé em território espanhol após passar a fronteira a salto. Depois apanhou o Sud-Express, mas não sofreu grande controlo: “Era ainda o início da emigração.” Foi só no ano seguinte que os portugueses, fugidos ao regime uns, em busca de melhores condições de vida outros, “começaram a desembarcar em Austerlitz aos milhares”. Em 2003, juntamente com um grupo de amigos, funda a associação Memória Viva, que visa preservar a história da emigração portuguesa em França. A associação elegeu o Sud-Express como símbolo e lançou o site www.sudexpress.org. Considera o mítico comboio como “um verdadeiro veículo de libertação através dos tempos” e é de opinião que a estação de Austerlitz, aonde o Sud chega, devia ser “monumento nacional”.
ENTRE 1963 e 1973
Mais de um milhão de portugueses emigraram clandestinamente. A grande maioria desembarcou na mítica ‘Gare d’Austerlitz’. Os que viajavam sem papéis desciam diversas vezes do Sud-Express e passavam as fronteiras a pé. A PIDE controlava todo o trajecto do comboio.
OUTROS TEMPOS
João Boavida e Elísio Torres trabalham no ‘wagon-restaurant’ desde “os tempos em que os fogões ainda trabalhavam a carvão”. Viveram histórias memoráveis mas Elísio nunca esquecerá o PIDE, que certa vez lhe pediu uma omeleta. “Disse-lhe que não. Só o meu chefe podia autorizar. Quando chegámos à fronteira mandou-me acompanhá-lo a uma cave. Já me preparava para enfardar.” O chefe safou-o. As relações dos funcionários com a polícia política eram cordiais. “Tínhamos medo!”, recordam.
EM 2006
Viajaram no Sud-Express 115 mil passageiros, o que representou uma receita de 6,5 milhões de euros. Todos os dias, o comboio parte de Santa Apolónia às 16h06 e chega a Hendaye às 07h10 do dia seguinte. Os passageiros podem optar entre lugares deitados, de 1.ª e 2.ª classe, e lugares sentados de 2.ª. Durante décadas, em Hendaye, todos os passageiros desciam do comboio para entrar nas carruagens francesas. Só os ocupantes das ‘couchettes’ permaneciam a bordo. Estes ‘vagões’ eram então levantados a cerca de metro e meio do chão para que fossem mudados os rodados.

O PRIMEIRO SUD-EXPRESS
Incluía duas carruagens-cama de 20 lugares e um ‘wagon-restaurant’ com sala de jantar para 20 pessoas e sala de fumo para 8. As carruagens, esclarece a CP, eram ligadas por “plataformas abertas providas de corrimãos e de passadiços.
Para iluminação utilizava-se óleo mineral, e o aquecimento era feito por meio de água quente que circulava em tubos de cobre”. Até meados dos anos 90, o comboio só era eléctrico até ao Entroncamento. A partir daí a máquina funcionava a diesel.
(in “Correio de Manhã” de 21.10.2007)

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