terça-feira, 3 de março de 2009

Portugal não tem uma Democracia


Parte da entrevista, concedida ao DN, publicada no dia 27 de Fevereiro de 2009 pelo Professor Vitorino Magalhães Godinho.


DN -Tem uma perspectiva muito crítica da actual organização da sociedade.
VMG – Historicamente, a seguir à II Guerra Mundial, houve um conjunto de transformações e acções politicas que criaram as economias mistas que funcionavam muitíssimo bem e levantaram a Europa. Deram-lhe um nível de vida e uma capacidade que não existia, foram 30 anos gloriosos em que funcionou muitíssimo bem porque criou sistemas de saúde e de segurança social e houve possibilidade da humanidade se renovar. A partir de certa altura, a reacção de forças económicas oligárquicas, de grandes empresas e forças politicas operaram uma reviravolta – a era de Reagan e de Thatcher – com uma politica oposta que destruiu o que se tinha feito.

...

DN – Acusa a classe politica pela situação. Acha que a nossa classe politica não está à altura?
VMG – Acho que a nossa classe politica é mais do que lamentável. Os nossos políticos não têm ideias e não debatem. Assiste-se a qualquer sessão do Parlamento e verifica-se que há afirmações mas nunca as demonstram. Diz-se que o TGV é fundamental mas ninguém o justifica. Quando há uma crítica ninguém responde, porque há uma incapacidade de argumentar nos nossos políticos. Em todos!

DN – À excepção do Primeiro-ministro?
VMG – É a pessoa que mais me confrange porque ainda não o ouvi responder a uma pergunta com argumentação. Até deixei de o escutar.

DN – Então pensa que este Governo não sabe o que está a fazer?
VMG – Sabe sim, infelizmente. Sabe como destruir o Sistema Nacional de Saúde e o Ensino Público, como entregar as universidades aos privados... Sabe pôr de parte todas as conquistas do mundo civilizado.

...

DN – Houve, então, um esvaziamento das ideias?
VMG – Os que dizem que as ideologias morreram têm uma ideologia: a actividade privada, o lucro e um sistema de governação que na aparência imita a democracia mas não o é realmente. Nós não temos democracia em Portugal, isso é fantasia.

DN – O que nós temos?
VMG – Um Estado corporativo como Salazar sonhou e nunca conseguiu. Realizámos o que desejava, que é o poder nas mãos de organizações profissionais.

1 comentário:

O Puma disse...

Curioso é verificar

como os filhos de puta

sobrevivem

no exercício democrático

do regime que os demitiu