sexta-feira, 10 de dezembro de 2010

A Europa à beira da implosão total


por Ana Sá Lopes, Publicado em 09 de Dezembro de 2010

Jacques Delors e Helmut Schmidt acreditam que a falta de líderes com qualidade e visão de futuro, na Europa, pode conduzir ao fim do euro e da União Europeia.

Ouçamos os velhos: Jacques Delors, o carismático ex-presidente da Comissão Europeia, acha que os dirigentes europeus são incapazes de uma verdadeira cooperação e não têm a mais pequena noção de que têm nas mãos um bem comum a gerir, o euro. Em entrevista ao Le Monde, Delors preconiza que com as coisas a continuarem como estão - a Europa e os seus principais dirigentes capturados por impulsos populistas - o declínio é irreversível.

Também Helmut Schmidt, o antigo chanceler alemão, não tem dúvidas: "Faltam dirigentes na Europa, pessoas em altos cargos que dominem as questões nacionais e internacionais e tenham suficiente bom senso", disse Schmidt em entrevista há dois dias. Angela Merkel, a sua sucessora na chancelaria, tem sido "pouco hábil" na gestão da crise e o ministro alemão das Finanças, Wolfgang Shauble, não percebe nada de mercados. Shauble, segundo o economista Schmidt, "percebe de questões relacionadas com o orçamento e de questões fiscais, mas os mercados internacionais de capitais e moedas, o sistema bancário ou a supervisão dos bancos são novos para ele".

O ex-chanceler esforça-se por tentar fazer perceber aos seus compatriotas a importância do euro para a Alemanha: se não houvesse euro, sustenta Schmidt, "a Alemanha teria sido alvo de especulações contra o marco pelo menos uma ou duas vezes, nos últimos 20 anos, de uma dimensão muito maior do que aquelas a que se assistiu contra a Grécia e a Irlanda". Mais: Schmidt acusa o banco central alemão, o Bundesbank, de estar a ser dirigido por "reaccionários" e personalidades "contra a integração europeia", que "tendem a agir demasiado a favor dos interesses nacionais, por não entenderem a importância estratégica" da integração europeia.

Esta semana, a rejeição por Angela Merkel das emissões da dívida pública europeias, defendidas pelo presidente do Eurogrupo, Jean-Claude Juncker (curiosamente, aquele que Helmut Schmidt identifica como o único dirigente europeu com o mínimo de high profile), por vários governos europeus, pelo FMI e pelo Banco Central Europeu, foram mais um momento negro, revelador da incapacidade alemã de resolver a crise do euro. No mesmo sentido foi a rejeição do aumento dos fundos do Fundo de Estabilização Financeira para acudir aos países em dificuldades. Os especuladores agradecem reconhecidos.

A situação é de implosão iminente. A teimosia da chanceler Merkel, que teme a emergência de um "Deustche Mark Party" na Alemanha - e a consequente derrota nas próximas eleições - vai levar a Europa para um abismo de consequências imprevisíveis. Essencialmente preocupada com a gestão da sua imagem nas sondagens, cuja melhoria é proporcional aos seus desmandos contra o euro, Merkel está a correr o risco de ficar para a história como a dirigente alemã que fez implodir o euro e, consequentemente, a ideia de União Europeia e as bondosas teorias da solidariedade entre os estados. O péssimo serviço que prestará à economia alemã, uma das principais beneficiárias do euro, é coisa que ainda não lhe passa pela cabeça - por muitos Schmidts que o tenham repetido nos últimos tempos. É neste nó cego que estamos metidos.

1 comentário:

O Puma disse...

Desta vez a Alemanha tentou e ainda tenta nova invasão da europa desta vez por via pacífica.

Tentará usar o euro
até ao limite do sufoco alheio