segunda-feira, 13 de dezembro de 2010

Um país de adictos em desgraças doces


Adoramos desgraças e dramas. Fazem-nos sentir vivos, estimulam as nossas capacidades intelectuais, dão-nos tema de conversa, unem-nos na luta contra um mal comum. Mas mais do que tudo alimentam a paranóia, essencial para combater a sensação de que não somos ninguém, de que não importamos para nada, porque muito pior do que imaginarmos que há por aí alguém a conspirar contra nós, é sentir que nos ignoram, que não valemos nada para os outros.

O pior é que nem todos os dias há desgraças e dramas dignos desse nome. A crise económica parecia promissora, mas já cansa, sobretudo porque na prática e para a maioria das pessoas está adiada para Janeiro; os terroristas o pior que fazem por cá é instalar-se numa casa numa terra recôndita e encher a garagem de armas; dos aviões só caem as peças e, insulto dos insultos, nenhum dos documentos divulgados pelo WikiLeaks se refere a Portugal, como se ninguém estivesse minimamente interessado na troca de telefonemas dos nossos diplomatas, nem nos estratagemas maquiavélicos dos nossos políticos. É que nem para vítimas os poderosos nos escolhem!

Sendo assim, e no intervalo da Casa dos Segredos, o que sobra para animar estes dias tão curtos e tristes de Inverno? A falta de açúcar, evidentemente. Durante o fim de semana era vê-los, como se não houvesse amanhã, em filas de supermercado com o precioso “pó” açambarcado no carrinho de supermercado, fosse ele branco, amarelo, mascavado, granulado, aos quadradinhos ou em saquetas.

Vítimas da mesma síndrome lá foramos jornalistas para a rua perguntar, em voz adequadamente dramática, como é que o senhor A ou a senhora B planeavam sobreviver sem este bem de primeira necessidade, esquecidos da reportagem da véspera sobre o crescimento alarmante e dramático da diabetes entre os portugueses. Mas é verdade, esse era o drama da véspera, já gasto e enterrado.

ISABEL STILWELL

1 comentário:

Manuel Veiga disse...

por uma vez a senhora teve graça. ou serei eu que ando distraído?

abraços