quarta-feira, 30 de janeiro de 2008

Futurismo no início sec. XX


"No campo das letras, António Ferro foi sem dúvida o maior entusiasta desta forma de música e de todo o processo social nela integrado. Ferro foi mais do que isso: foi um verdadeiro apreciador de jazz, coleccionador de discos e, sempre que podia, assistia a concertos em Paris ou nos Estados Unidos, com os músicos mais importantes da época. Os seus livros A Idade do Jazz-Band, Novo Mundo Mundo Novo e Praça da Concórdia são permanentemente tocados pela música e pelos sentimentos que esta traz ao autor e aos ambientes vividos.
Almada, como artista literário, também retrata, no seu romance Nome de Guerra, a vida de boémia das noites dos clubes de Lisboa. Reynaldo Ferreira, o célebre “Repórter X”, escreve o livro A Virgem Do Bristol Clube e centenas de artigos que envolvem a vida nos clubes com o jogo e a corrupção, não esquecendo as drogas da época: a cocaína e a morfina. As grandes notícias dos jornais eram os assaltos nos próprios clubes ou nas suas imediações por bandos organizados. Mário Domingues escreve em 1929 o romance O Preto do Charleston que reflecte a sua experiência como porteiro do Clube Ritz.
A música em si estava completamente dominada pelas Jazz-Bands, que até já ofereciam os seus serviços em anúncios de jornal, para os organizadores de bailes nas colectividades e festas particulares. Também por essa época aparecem os primeiros espectáculos de negros americanos em Lisboa.

(...)Cabem as mulheres, as mulheres improvisadas pelo próprio Jazz-Band, mulheres onde a cabeça, o tronco e os membros, somam três corpos... Cabem os homens que cabem sempre onde cabem as mulheres... Cabe toda a Arte, a arte de hoje que chora, que grita, que ri, que sabe beijar, que sabe vibrar, que sabe morder... E cabe a própria Vida, a vida industrial que é um Jazz-Band de roldanas, de guindastes e motores, a vida comercial que é um sud-express, a vida intelectual onde as palavras pensam por si... (...)
António Ferro, A Idade do Jazz-Band, 1922.

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