sexta-feira, 5 de setembro de 2008

Eça de Queiroz e o Sud Express


A Ilustre Casa de Ramires (Capítulo XII) – Eça de Queiroz


— E então o nosso grande homem? quando chega? quando chega?
— No domingo. Estamos todos em alvoroço... Então não se senta, Sr. Videira? Olhe, puxe aquela cadeira de vime. A varanda por ora não está arranjada.
Videirinha, logo depois da Eleição, recebera de Gonçalo o lugar prometido, fácil e com vagares. para não esquecer o violão. Era amanuense na Administração do Concelho de Vila-Clara. Mas convivia ainda na intimidade do seu chefe, que o utilizava para todos os serviços, mesmo de enfermeiro, e o mandava sempre com uma autoridade seca, mesmo ceando ambos no Gago.
Timidamente arrastou a cadeira de vime, que colocou, com respeito, atrás da cadeira do seu chefe. E depois de tirar as luvas pretas, que agora sempre trazia para realçar a sua posição, lembrou que o comboio chegava ao apeadeiro de Craquede às dez e quarenta, não trazendo atraso. Mas talvez o Sr. Doutor apeasse em Corinde, por causa das bagagens...
— Duvido - murmurou Gracinha. - Em todo ocaso o José está com tenção de partir de madrugada, para o encontrar na bifurcação, em Lamelo.
— Nós, não! - acudiu o Titó, que se sentara familiarmente no rebordo da varanda. - Cá o nosso rancho vai simplesmente a Craquede. Já é terra da família, e sítio mais sossegado para o vivório... Mas então esse homem não se demorou em Lisboa, prima Graça?
Desde domingo, primo Antônio. Chegou no domingo, de Paris, pelo Sud-Express. E teve uma chegada brilhante... Oh! muito brilhante! Ontem recebi eu uma carta da Maria Mendonça, uma grande carta em que conta...

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