O sociólogo Boaventura Sousa Santos negou hoje que os portugueses sejam “lascivos, preguiçosos e indolentes”, uma classificação que disse radicar num “preconceito histórico”.
Trata-se de “estereótipos que se criaram sobre a sociedade portuguesa”, disse Boaventura Sousa Santos, na Faculdade de Economia da Universidade de Coimbra (FEUC).
Associando o actual “momento muito difícil” por que passa o país, no plano económico-financeiro, ao “modo como a própria União Europeia tratou a questão do euro”, defendeu que “Portugal tem futuro, não é um país sem alternativa”.
Boaventura Sousa Santos falava aos jornalistas, à margem do colóquio internacional "Portugal entre desassossegos e desafios", organizado pelo Centro de Estudos Sociais (CES) da Universidade de Coimbra, do qual é director.
O catedrático jubilado da FEUC recusa-se “totalmente a ser cúmplice dessas críticas” a Portugal, “lamúrias sarcásticas que surgem hoje na comunicação social”.
“Hoje tudo é feito de um preconceito histórico, como se os portugueses fossem lascivos, preguiçosos e indolentes, mas não é isso que se passa”, disse.
O sociólogo realçou que “Portugal tem uma história que contribuiu para o que a Europa é hoje”, acrescentou.
Na sua opinião, “este projeto europeu faliu”, sendo necessário transformar a União Europeia, em cuja construção “o que contou foi a economia”, num “projecto mais próximo da realidade dos cidadãos”.
Quando os negócios “não vão bem para os mais ricos, eles viram-se contra os mais pobres”, enfatizou.
“Não tenho esperança que com estes líderes a Europa vá encontrar algum futuro”, opinou.
Boaventura Sousa Santos vaticinou que “os portugueses vão superar” as atuais dificuldades, lamentando que a crise europeia e global esteja “a ser resolvida por quem a criou”.
A conferência inaugural do colóquio internacional, que termina na sexta-feira, foi proferida pela escritora Hélia Correia.
“O imaginário sem norte” é o título da conferência, em que Hélia Correia aborda o que designa como “doença portuguesa”, em que “a saudade surge como o sentimento mais visível e exuberante”.
Outro dos oradores foi o presidente da Associação Portuguesa de Sociologia, Manuel Carlos Silva, que denunciou “os riscos relacionados com a utilização instrumental da sociologia ao sabor das conveniências políticas dos detentores do poder a nível nacional, regional e local”.
Criticou também “as tendências de empresarialização e gestão privada de instituições, nomeadamente universidades, cujo desenlace pode ser a desvalorização ou menorização das ciências sociais e humanas”.
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