terça-feira, 8 de fevereiro de 2011

Será que aprendemos algo com o Egipto?


Uma das aprendizagens que tenho feito ao longo da vida é de cariz socrático: descubro que os dirigentes dos estados ocidentais, os paladinos da democracia movida pelo combustível dos serviços secretos, das centrais de informação, dos satélites espiões, do dinheiro para corromper e comprar almas, afinal, só sabem que nada sabem.

O caso mais célebre deu-se com a queda do Muro de Berlim e o rápido colapso do socialismo soviético: a CIA nada sabia, nada tinha previsto. Dez anos antes, quando o ayatollah Khomeini, exilado em França, se preparava para apanhar os restos da queda do regime ridículo do Xá da Pérsia, a Europa via nele uma luz, talvez um pouco folclórica, é certo, mas de esperança libertária para o Irão. Que equívoco extraordinário!

Mesmo assim, nada se aprendeu. Foi possível invadir duas vezes o Iraque para resolver coisa alguma. Foi possível dar armas a Bin Laden e tê-lo depois como o inimigo público número um. Foi possível o 11 de Setembro. Foi possível denunciar armas de destruição maciça que nunca existiram. Foi possível o conflito Israel-Palestina voltar inúmeras vezes ao ponto de partida. Foi possível continuar a errar, a errar, a errar.

Desde os anos 80 que os embaixadores dos países da liberdade e do cristianismo enviam correspondência às suas capitais a alertar para o perigo do fanatismo religioso no mundo árabe. Tinham medo do fanatismo na Argélia. Tinham medo do fanatismo em Marrocos. Tinham medo do fanatismo em Londres e Paris, onde residem grandes comunidades árabes. Tinham medo, em suma, que o fanatismo lhes entrasse em casa.

Ouvi vários sábios e candidatos a sábios dizerem que esse problema, juntamente com o da degradação do ambiente e o da escassez de fontes energéticas, seriam os grandes temas do século XXI. Mesmo assim, nada se aprendeu.

Quando olho para a crise no Egipto e oiço os comentários titubeantes dos grandes dirigentes mundiais, o seu ar embaraçado face ao movimento de protesto, a capacidade de resistência de Hosni Mubarak - que tão apaparicado foi pelos países que agora lhe viram costas - as velhas explicações sobre ramos religiosos que dividem o islão (como se isso explicasse tudo!), a descrição simplista sobre as tendências políticas do país, as conclusões desmentidas pelos factos no dia seguinte, desespero!

Só espero que, de vez, nos convençamos disto: sobre o mundo que não é o nosso, nada sabemos. Só espero que, modestamente, em vez de continuarmos a tentar manipular a realidade, nos calemos, finalmente, para tentar, seriamente, ouvir e aprender.

Crónica de Pedro Tadeu

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