quarta-feira, 16 de fevereiro de 2011

A parte séria da geração parva


A nova canção dos portugueses Deolinda, com o título Parva que Sou, provocou por aí vários fragores. Os mais atrevidos lêem no refrão do tema (que mundo tão parvo/onde para ser escravo é preciso estudar) um novo hino geracional, semelhante ao proporcionado pelas canções de Zeca Afonso ou José Mário Branco. Um exagero. Outros, como o ministro Mariano Gago ou a ex-ministra Lurdes Rodrigues, vêem no refrão uma palermice, capaz até de afastar dos estudos os mais incautos. Outro exagero. No meio disto, ganham os Deolinda, cujo tema, ainda não editado, é já um sucesso...

Postos de lado os exageros interpretativos, há uma parte séria neste assunto. Para a "geração parva", como já é apelidada a chusma de jovens que sobrevivem com mil euros, ou menos, ou que nem estudam nem trabalham, ou que arrisca passar a vida a saltitar de um emprego precário para outro emprego precário, para essa "geração parva" as coisas vão, muito provavelmente, piorar antes de melhorar. Resta apenas conhecer a amplitude do verbo piorar.

A Alemanha, acompanhada da França, toca as notas deste futuro que se desenha a negro. A chanceler Merkel não está disposta a abrir os cordões à bolsa sem que, em contrapartida, os países pecadores como Portugal se sujeitem a uma dura penitência. Em que consiste a dita? Entre outras coisas, a chanceler exige que a evolução salarial ande a par com os ganhos de competitividade. Isto, que alimenta discussões várias, tem uma consequência: soma-se precariedade à precariedade.

Está um país endividado até às orelhas como o nosso, e impossibilitado de desvalorizar a moeda para pagar o que deve, em condições de seguir a receita alemã? É certo e seguro que com um choque de competitividade no curto prazo garantimos mais exportações, mais crescimento económico, mais emprego e finanças mais sãs no médio prazo? Os entendidos na matéria dividem-se, mas todos tomam como certo que a receita será sempre dura. Sobretudo para a "geração parva".

Por cá, os sinais agravam a sensação de que, em 2011, o país não escapará a uma recessão. O impacto das medidas de reestruturação orçamental fez recuar a produção de riqueza no último trimestre de 2010.

De modo que estamos entre a espada que a senhora Merkel tem nas mãos e a parede a que nos deixámos encostar depois de anos e anos de loucura.

Não é um bom sítio para se estar.

Crónica de: Paulo Ferreira

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