terça-feira, 1 de fevereiro de 2011

A política anda mesmo na mó de baixo.


Uma sondagem concluiu que 90 e tal por cento dos portugueses não confiam no(s) governo(s), acham que os políticos se servem em vez de servirem e estão desiludidos com a política, que, devendo ser "res publica", é cada vez mais... "res" privada. Um politólogo ouvido pelo JN não podia descrever a situação de forma mais cruel: "os partidos são máquinas com agenda própria que vivem para os seus dirigentes e quadros e só secundariamente são agentes ao serviço do país". Cenário mais negro do estado a que chegou a política em Portugal dificilmente poderia ser pintado...

Essa desilusão quase generalizada tem reflexo, por exemplo, nos actos eleitorais. Anda muita gente a tentar explicar os 53,37% de abstenção com o comodismo, o frio, a ausência de suspense - e passa alegremente por cima de sinais alarmantes como este: os votos brancos quase atingiram 200 mil. No primeiro caso pode falar-se de "antipolíticos" passivos, mas os votos brancos provêm de "antipolíticos" activos. Ou seja, cidadãos que querem passar a mensagem de que não se revêem em nenhum dos candidatos nem nos seus programas.

Mas há mais - há José Manuel Coelho. Quando se pensaria que ia desistir à boca das urnas, depois de cumprir a tarefa de "dizer mal" do dr. Jardim, sucede que vai em frente e arrecada quase 190 mil votos. Mesmo descontando 46 mil de madeirenses antijardinistas, como explicar que só no continente tivesse recolhido mais de 140 mil votos? Esperariam esses eleitores que Coelho chegasse a Belém? Decerto que não! A exemplo de quem votou em branco, quem votou Coelho o mais que esperaria é que os nossos políticos acordassem de vez para a evidência de que a política anda, por cá, pelas ruas da amargura, é mal amada e nada respeitada.

Crónica de Sérgio Andrade

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