quarta-feira, 9 de novembro de 2011

Os "piratas do ar" portugueses que fizeram tremer Salazar


Cinquenta anos depois do desvio de um avião que visava derrubar Salazar, alguns destes "piratas do ar" reúnem-se para assinalar a efeméride e tentar impedir que a sociedade esqueça a sua luta contra a ditadura.

O célebre desvio do Super-Constellation da TAP 'Mouzinho de Albuquerque' foi feito por meia dúzia de "resistentes", para quem era preciso fazer algo "em grande" que abrisse caminho à liberdade que não existia com Salazar no poder, como contaram à Lusa alguns dos autores do golpe.

Meio século depois, a iniciativa de tentar impedir que este episódio da história portuguesa seja esquecido é da Associação Promotora do Livre Pensamento (APLP).

O presidente da APLP, Luís Vaz, explicou à Agência Lusa os propósitos deste encontro, que decorrerá quinta-feira num restaurante em Lisboa: "Passar à juventude uma mensagem pedagógica sobre a importância deste acontecimento histórico".

"Sendo a APLP uma associação que pretende manter a memória viva sobre os acontecimentos históricos, não podíamos deixar de recordar este episódio e inseri-lo no contexto da luta anti-fascista", disse o historiador, autor de vários livros sobre o anti-fascista Hermínio da Palma Inácio.

O desvio foi protagonizado por Hermínio da Palma Inácio, um resistente que na altura era conhecido e perseguido pela polícia política.

Com ele alinharam Camilo Mortágua, João José Martins, Amândio Silva, Maria Helena Vidal e Fernando da Costa Vasconcelos.

Os "piratas do ar" embarcaram em Casablanca no avião, que fazia a rota Lisboa-Tanger-Casablanca-Lisboa, e obrigaram o comandante a sobrevoar Lisboa e outras cidades a baixa altitude para lançarem panfletos contra o regime de Salazar.

Os revolucionários regressaram a Marrocos, tendo posteriormente seguido para o Brasil.

Em Portugal, o regime acumulava mais esta fenda, a qual se seguiu ao desvio do paquete Santa Maria, que tinha ocorrido em janeiro desse ano.

"Este é um acontecimento que marca o início do fim do regime", explicou Luís Vaz, considerando que a sua lembrança é uma forma de mostrar à juventude que, "mesmo sem emprego e numa ditadura económica, é possível ter energias para o combate".

Para o historiador, hoje em dia "não há uma ditadura, mas sim ditaduras psicológicas".

"A juventude é criativa e vai saber atuar, não nestes moldes, mas saberá como resistir", disse.


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