Todos deveríamos ter um doutoramento em Inevitabilidade. Ou, como isso dá muito trabalho, custa bom dinheiro e duvido que haja alguma universidade que tenha apostado nesta nobre área, pelo menos, deveríamos estar munidos de um talento natural para perscrutar os insondáveis caminhos desta ciência e dos seus gurus de sempre.
Mas como a maioria de nós não tem nem uma coisa nem outra, resta-nos ouvir com especial deleite as palavras dos mesmos de sempre.
Primeiro, as inevitabilidades dos mesmos de sempre: Tudo isto é absolutamente inevitável até que se demonstre o contrário. E se, eventualmente, for demonstrado o contrário, nasce outra inevitabilidade e por aí fora... Estão a ver? É o conceito da vulnerabilidade da inevitabilidade. A inevitabilidade em vigor é esta: a crise é inevitável, os reajustes são inevitáveis, o empobrecimento é inevitável, os cortes salariais são inevitáveis, as contenções avulso são inevitáveis, o desemprego é inevitável... Tudo isto é fado, tudo isto é inevitabilidade. É o raio do deve o do haver que nunca se sintonizam com a precisão desejável. E como temos mais a dever do que a haver, resta-nos penar, pagar e aguentar ou seja... É inevitável.
Depois: há sempre alguém que avisa. Houve, sim. Mas, geralmente, ninguém liga muito. Só depois do desastre - que é quando começam as inevitabilidades como devir histórico – é que alguém dá mérito aos poucos que avisaram mas a quem ninguém ligou. Aí, os mesmos de sempre ocupam logo o seu espaço mediático para nos dar a receita: penar, pagar, aguentar. É a inevitabilidade.
De que valia prevenir ou avisar, procurar alternativas, se tudo isto se resume a uma inevitabilidade?
Penar, pagar, aguentar.
Por: Nuno Francisco
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