quinta-feira, 17 de maio de 2012

A escolha entre miséria e miséria.


Winston Churchill não marcou apenas uma época de governação de excelência na Inglaterra e da Europa. Deixou um legado de conceitos. E de entre eles o mais marcante terá sido o definido numa célebre declaração na Câmara dos Lordes, em 1947: "A democracia é a pior forma de governo, salvo todas as outras formas que têm sido experimentadas de tempos a tempos". Nem o facto de uns anos antes Hitler ter chegado ao poder por via do voto do povo subverteu o pensamento do primeiro-ministro inglês.

Apesar do exercício da democracia envolver alguns riscos convém, pois, resistir a todas as formas de adulteração do melhor sistema de escrutínio de poder. E quando há na Europa uma tendência para exterminar o conceito é avisado resistir, resistir, resistir.

Balizado por regras constitucionais bem definidas, o povo tem o direito de fazer opções em urna, arcando a seguir com as responsabilidades do seu comportamento.

Não há, não pode haver, uma divisão entre votos bons e votos maus - mas assiste-se a uma preocupante tendência para desvalorizar umas escolhas, bloqueando-as, viabilizando-se entretanto outras.

O mais fresco maniqueísmo dos comportamentos está bem vincado na atual situação política da Grécia. Governos de batotice estatística durante uma série de anos, sob o olhar cúmplice de uma União Europeia entretanto armada em falsa moralista e a impor medidas de austeridade draconianas - das quais a emenda é bem pior do que o soneto -, levaram os gregos a fazer opções contraditórias nas legislativas. Os institutos de sondagens revelam a sua vontade em continuar no euro mas simultaneamente legitimaram nas urnas a subida em flecha de partidos radicais, de esquerda e de direita. Resultado: a impossibilidade de formação de um governo e a necessidade, prevista, de nova ida a votos.

Esta espécie de tragédia grega gera, naturalmente, ondas de choque, sobretudo da parte dos afamados (e especulativos) mercados. Há uma quase unanimidade em considerar os gregos um bando de irresponsáveis e, entre o aceno de um golpe militar ou o corte da assistência financeira internacional, ecoa uma moral alinhada de adeptos de uma quase interrupção do processo democrático em curso.

Perigosa, e por isso de rejeitar, é esta tendência para modelar um grupo de meninos de coro muito alinhados.

Não obstante a legitimidade das pressões, o povo grego tem todo o direito de fazer opções. Ao serem chamados a novas eleições para desbloquear o impasse, os gregos dão expressão à Democracia. As opções por um arco de governo pró Europa ou destinado a mandá-la às malvas é lá com eles. Assim como assim têm o direito de escolher a rota para o seu futuro. Trata-se, afinal, de optar. Entre a livre miséria e a miséria assistida.

Sim, outros, incluindo Portugal, poderão levar por tabela. E daí?

A Democracia não tem preço.


Crónica de: Fernando Santos

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