Os médicos preparam-se para fazer uma greve de dois dias com o apoio e até incentivo do bastonário da Ordem dos Médicos. Há razões para os médicos estarem descontentes? Sem dúvida. Mas greve? Para além das pessoas que vão prejudicar, o que ganham? Nada. Ou antes, correm o risco de danificarem a sua imagem.
Comecemos pelo que desencadeou o anúncio de greve a 11 e 12 de Julho: o concurso centralizado e internacional para a aquisição de serviços médicos, nomeadamente, a referência explicita ao preço como um dos critérios. O Ministério da Saúde, aceitando algumas das criticas feitas pelos médicos, fez alterações ao concurso, integrando critérios de valorização das competências. Do lado dos sindicatos, a reacção foi de dureza, mantendo a greve.
Um dos aspectos originais desta greve é o significativo envolvimento do bastonário da Ordem dos Médico. José Manuel Silva apoia entusiasticamente a greve e pode até dizer-se que a promoveu activamente. Porque é que um bastonário o faz é incompreensível. Como é difícil de compreender o discurso público do bastonário, muito centrado e preocupado com os efeitos das políticas públicas de saúde na indústria farmacêutica.
Uma outra vertente desta potencial greve é o facto de ser, na prática, uma greve na Função Pública. O que é revelador da assimetria de direitos e de deveres que caracteriza o sector da saúde em Portugal. No sector público exige-se tudo, no sector privado aceita-se tudo e não há discussões nem reivindicações em defesa da qualidade dos serviços.
Claro que os médicos têm razões para estarem descontentes, como todos os portugueses, com especial relevo para os que trabalham na Função Pública. Os médicos perderam quase um quarto do seu salário anual por via dos cortes salariais e, ao mesmo tempo, enfrentam uma séria pressão de redução dos seus rendimentos através dos cortes nas horas extraordinárias e na gestão mais eficiente dos hospitais. A par disso vêem algum do seu poder desaparecer e ser transferido para as farmácias no domínio cada vez mais vastos dos genéricos. Ninguém pode ficar satisfeito com menos poder e menos dinheiro. Mas mudar o Estado, tornar o Estado mais eficiente, é fazer isto, é reduzir o poder de capturar rendas. Pela nossa saúde.
Trocam-se os poderes, trocam-se as cadeiras
José Luís Arnaut assume as funções de administrador não executivo da Rede Eléctrica Nacional (REN). Publicamente disse à SIC que foi escolhido por uma empresa da família que tem 5% do capital da Rede Eléctrica Nacional. Pressupõe-se que essa família ou conseguiu a posição apenas recentemente ou só descobriu as qualidades de gestão do advogado e ex-ministro do PSD há pouco tempo. Ficámos agora a saber que a sociedade de advogados CMS Rui Pena & Arnaut foi a escolhida para assessorar a privatização da TAP.
Repentinamente, as assessorias do Estado mudaram de morada. Houve um tempo rosa em que o advogado da moda no Estado era António Vitorino. No tempo laranja, o que se usa mais é José Luís Arnaut.
Já nem temos capacidade para nos escandalizarmos. Já só encolhemos os ombros. Um dia, o sistema não resiste, porque nunca resiste a tudo. É pena que tenha de ser assim.
Crónica de Helena Garrido
Nota: Pela nossa saúde!...
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