João Lemos Esteves (www.expresso.pt) 9:51 Sexta feira, 13 de julho de 2012 |
1. Miguel Relvas? Miguel Relvas? Que mais posso eu dizer...Como sabem, caros leitores, tenho dedicado vários textos a esta personagem da nossa vida política. Que mais posso dizer? Que Miguel Relvas não tem credibilidade para ser porteiro do meu prédio, quanto mais Ministro de Portugal? Isso já todos sabemos . Que Miguel Relvas mente e mente muito sobre qualquer matéria, em benefício dos seus próprios interesses? Já não há leitor que duvide desta constatação. Como é que Miguel Relvas continua a desempenhar cargos governativos em Portugal? Fácil: porque os políticos portugueses (com honrosas excepções) têm medo uns dos outros e das várias teias de influência que foram tecendo. Passos Coelho deve um (ou mais?) favorzinhos a Miguel Relvas e a José Luís Arnaut (a nomeação para a REN não foi mera coincidência e só surpreendeu os mais distraídos) e, por conseguinte, não os pode afastar - caso contrário, estaria a assinar o seu certificado de óbito político. É triste esta realidade? É, muito, muito triste. Infelizmente, a verdade é que a nossa democracia carece de uma reforma estrutural.
2. Dito isto, este texto surge na sequência da nova polémica (outras aparecerão, estou certo) que envolve Miguel Relvas: a sua "licenciatura" em Ciência Política e Relações Internacionais foi tirada em tempo supersónico, recorrendo ao expediente das "equivalências". Mais: apurou o EXPRESSO que só três das cadeiras do curso de faz de conta de Miguel Relvas tinham professor. Entretanto, o processo de Miguel Relvas, na Universidade Lusófona, foi tornado público: confirmou-se que houve um processo de claro favorecimento a Miguel Relvas, sendo o seu diploma obtido de forma tão fácil como se tivesse sido atribuído por uma marca de cereais ao pequeno-almoço.
3. Posto isto, resta o nosso comentário. Falar sobre Miguel Relvas é falar sobre um grupo de políticos que ao longo dos últimos anos (décadas) foi beneficiando de um conjunto de favores por parte de diversos empresários e entidades, devido aos cargos que forma ocupando na vida pública portuguesa. Sabe-se que em Portugal os empresários não se metem com o poder político e tentam agradar às figuras políticas que julgam ter grande peso nos partidos políticos: no caso de Miguel Relvas, a Universidade Lusófona até o destacava na sua lista de "famosos" por si licenciados. Todos nós já concluímos que a licenciatura de Miguel Relvas vale zero - é um caso ainda mais grave do que o de José Sócrates - e a Universidade Lusófona objectivamente prestou um favor a Miguel Relvas: o currículo desta nossa personagem política não permitiria, de modo algum, obter um curso por equivalências. Afirmar que Miguel Relvas poderia ter tirar um curso universitário de Ciência Política e Relações Internacionais por equivalência, devido aos cargos políticos que foi desempenhando, é o mesmo que afirmar que a Tia Mercília, da Gafanha da Nazaré, pode dirigir-se à Universidade Lusófona para pedir a equivalência do curso de Gestão e Economia devido á sua larga experiência na gestão da mercearia local! Ouvi dizer que ela trata das contas do pão e da banana como ninguém - e, no fundo, tratar das bananas é o mesmo que gerir as contas públicas nacionais! Enfim...
4. Entendamo-nos: o que repugna no caso da pseudo-licenciatura de Miguel Relvas é a circunstância de esta personagem política não ter o mínimo de respeito por si próprio. Se tivesse o mínimo de carácter, jamais aceitaria tirar um curso nestas circunstâncias. É precisamente nestes pequenos episódios - que alguns desconsideram por se tratar apenas de um curso - que se revela o carácter, a fibra, a seriedade das pessoas que nos governam. Se Miguel Relvas tem escrúpulos e uma falta de vergonha tal que lhe permite esta chico- espertice de tirar o curso sem praticamente ir à Universidade - e, ainda por cima, sempre gostou de proclamar que é licenciado - é capaz de todas as trafulhices. Não é uma pessoa séria, honesta, exigente para consigo e com sentido do ridículo: se não no que toca aos assuntos da vida particular, não o poderá ser (nunca!) na gestão da coisa pública. O episódio da licenciatura é o retrato perfeito de Miguel Relvas: alguém que nasceu nas estruturas partidárias e construiu uma teia de influências, de favores e favorzinhos, que o permitiu subir na vida. Miguel Relvas não serviu a política portuguesa; serviu-se da política prosseguindo o seu interesse exclusivamente pessoal. Enriqueceu (e muito) à custa de servir Portugal, servindo-se a si. Com uma licenciatura que vale zero, construindo uma empresa cuja actividade ninguém (ou poucos) conhece realmente, Miguel Relvas construiu uma fortuna pessoal. Sabe que, de acordo com as declarações de rendimentos entregues no Tribunal Constitucional, Miguel Relvas é dos ministros com rendimentos mais elevados, só superado por Paulo Macedo? Como?
5. Em conclusão, o episódio da licenciatura de Miguel Relvas não é grave por si: é gravíssimo porque revela que Miguel Relvas não sabe actuar de forma séria - a sua vida pessoal, e por maioria de razão política, está cheia de episódios mal contados. Miguel Relvas não sabe ser sério na gestão dos seus asssuntos pessoais - logo, não sabe ser sério na gestão dos interesses de Portugal. Este homem não pode ser Ministro de Portugal. Demita-se, Miguel Relvas, e saia com um pouco de dignidade. A seu bem e a bem de Portugal. Já hoje.
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