sexta-feira, 10 de fevereiro de 2012

O portugues é suave felizmente para os espertos.


Há umas semanas entrei num estabelecimento comercial de Lisboa e, ao longe, vi uma figura conhecida da nossa praça. Saí imediatamente. Quem me conhece sabe que sou uma pessoa tolerante no trato pessoal. Não confundo as minhas divergências políticas ou outras com falta de civilidade. Mas, como toda a gente com espinha, tenho os meus limites. Parafraseando Pinheiro de Azevedo: "Não gosto de ser roubado. É uma coisa que me chateia."

A pessoa em causa era Dias Loureiro. Pois andava ele por uma das principais avenidas de Lisboa na maior das calmas. De regresso a casa, não pude deixar de pensar: um dos principais envolvidos na maior fraude financeira de que há memória Portugal, que custou milhares de milhões de euros aos contribuintes e teve um papel decisivo nas enormes dificuldades que os cidadãos estão a viver, poderia, num outro qualquer país, andar calmamente na rua sem, pelo menos, se arriscar a ouvir das boas? Pensando nisto, não sabia responder se a nossa suavidade resulta de uma especial civilidade ou de alguma falta de coragem. Sabendo que eu preferi sair da loja a dizer-lhe o que penso, e porque não me tenho como cobarde, apostei na primeira. Não gosto de peixeiradas em locais públicos. Não serei o único. Olhando, nesse mesmo dia, para dois automobilistas que se insultavam por coisa nenhuma, apostei na segunda.

Que Dias Loureiro ande pela rua, como se nada a fosse, não me chega a irritar. Tenho uma remota (muito remota) esperança que venha a ter um encontro com a justiça. Isto apesar de saber que Madoff está preso e a esmagadora maioria dos senhores da SLN e BPN não só estão muitíssimo bem como são, em catadupa, nomeados para empresas, comissões e cargos públicos.

O que me incomoda, depois de ter ouvido Dias Loureiro a mentir descaradamente na comissão de inquérito ao BPN (os documentos conhecidos provam as mentiras sem margem para dúvidas) e de todos sabermos até que ponto foi responsável por muitos negócios ruinosos na SLN, seja um dos principais conselheiros políticos do nosso primeiro-ministro. E que, segundo uma notícia do "Correio da Manhã", represente empresários angolanos na compra de órgãos de comunicação social. Entre eles, quem sabe, pode estar parte da RTP. Assim como o senhor Rendeiro continua a viver muitíssimo bem e também ele trata da sua vida. E nada disto parece provocar especial incómodo. Neste País, tudo se recicla e negócios são negócios. Cada um sabe dos seus.

Fico a pensar se esta não é a nossa sina. Se não temos a justiça que merecemos. Como a nossa indignação é sempre difusa - contra "os políticos" e "os poderosos" -, os espertos passam entre dos pingos da chuva. Dias Loureiro andará por aí. E, quem sabe, quando passar algum tempo, até venha a ter de novo um cargo público ou na banca nacional. Os seus amigos políticos não o deixam cair, isso parece evidente. E os portugueses não se importam.

Nota: Vamos ver até quando!...


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